A Provincia do Pará de 06 de Julho de 1947

Domingo 6 de jullio 'de 1947 rha ma ao vento Cop~,o de BRAGA MONTENEGRO Premiado no concurso instl– tuiclo pela. Livra.ria Aettúiti,,s, de Fortl!,lt1:r;a., tll!l co)abl)~ão c,om • A. B. J}. E., S~ ao Ce11,râ come~o:r1<tivo do cente• nárlo de iça. t!e QP.eiroz, o P.~ vro do jovem e talentoí,;o ~– critor cearenl$, Braa-a Mont.e• ne,ro - "U~a Ch&lPll- ao Vento" Jan1111.do hã. i,ouco, por .-.quela. editora, embora. abso– lutamente deseonheeido do :público do Rle, vem alc11,n. ~ando na1u'le sucesso lle ~ll'Í• tlca nos EstadoÍJ do Norte, oi,. de seu autor. como jornaliitf~ e intelectual; 6 um nome 4G maJ11 conhecldo1. Por Isso lembraram.se . os "DiáfJos · As• eociados" de oferecer aos t,eus leitores uma das novel•• ..... precisamente a que deu tttq.. lo 11,0 volume - dêsse n11v.o va– ler das nos!lall letras de tlo– CJáo. cujo liVl'o de utT_ 6ia, PV• blieado por uma peq~e,ia. d\– tora d provlneia, não ~ e11- eontrado nas llvr11,ria1. da cl. do.de . Cheguei hoje do trabalho mals fatigado do que nunca. No re~ fog!o da sali, acabam · de bat4!r onze ou (toze hor11.s e não eon– eigo dormir. Na cama, dettado ao c01nprido, as nãos cruzadas sobre o pleit,0, distraio-me olhando através da vidraça 11. luz nas árvores da rua que re• volvem os galhos formando de- 11enhos, bichos. assombrações. Sb'lto a eabeça dolorida e, se fecho os olhos, tenho a impr~s– são de que ela se e11che e se esvazia como um balão de bor– rach!!,. Penso em mil coisas con– trarias: nos acontecimento& dos tiltimoa dias que têm sldo uma prova. bem düicil para. os tl\OUS pobres nervos ... Evoco cenas da minha !nfan• cià distante e infe~; os tempos que pa!Qi na fazenda dQ @'lr! 'Velhos p$rentes q11e me reconhfl• eeram por piedade, quand,o, mui– to pequeno alnda, perdi meqa f)ais num desastre de trem. Ai vivi entre oa molequea da ea– u. 1ecular, netos de antigos es- 4-ravos dos meus avós, trab1t• lhando com eles no rude ser– viço do campo; com eles estu– dando u primetra11 letras, mal ensinadas por uma ve~i,. . ti11. 1elilll,Ungona e beat11,; coin tles rezando, em coro na c!!,i,ela, os terços e &/l ladainhas tt:ades flt• le. vo11 fanhoi , e irritante da velha. parenta. ... Recordo D. Florinda, que to. elos o:s anos vinha p11.ra .all no;. venas ~o mês ,te maio. Náq inen. tava a cavalo. Num dos ultlmoa d1aa de abril, o :feitor delnV& o ,ervlço mais cedo, atrelava um anlmal ao desconjuntacJo ca– brii'.ilé que na maiQr parte do tempo permanecia emp(!elrado e sr-rvindo de ninho às galinha.a, eob um telheiro M lado, ,..en;11,. ne$Centés da.s antigas senzo,Ias e~ rutnas. O Cl1tco ll'l~~Us es.. J)aneava. 011 l!,rreios, llmP.. VI!, os às!lentos com panos malhados e ttatava para Maranguape a tra– zer I>. Florinda para. as nove. nas. Então, me punha. a ollls.r a estrad&, na &naledade da · (Jara ..,. "t.; ; I. sncl&C,.08) f!l.l~ à prlr,1a ....;crtrudes.. . " - Sinto-me entorpecido: só a ca,– b,fa vive... a cabeça. que se en• ehe e se esva,zia .. ; Nlo (lurmo. Lev~to-me. Volto ao ga't,inete. Escrevo. 1 tá. tre• mêses Mana. Luiza :saiu de casa. mate aeonteelmento, que, a. prll\oiplo, me trouxerii a 11U• · ~ã6 de liberdade por ter eea– sa<to uma. vide. de ineomp:reen– são que 1111 vitiha anastando por 2 l<Jrigos anos, opresentou•11e-me, depolt, como · tnsuportavel seP.– iiac;ão de abant1ono e solidão. De temo, Maria Lui~ n,ão li má: que culpa tem el& de lhe te– rem dadQ ·uma educa9tk1 defel– tuo11a, vuI1ar? Tambem nlo te– nho cijJp 4e ter sofridl'I tan– tQ. de q_tlt é 1nru e rate: ge tor– na,;~• tli,o ispero. O certo é que, num dla de maiores aborrecimentos, diz-lhe aJJWU" observaç~ t1margas. Respondeu-me com J)alavraa srosetraa, berrou, tez eaelnda– Jo • par fim disso que não me ijportava. mais, q'Qe 11e ia em~ bera. . .,..,- PG>is vá. -- Vou mesmo. Tenho pai e m , .e não preciso viver eom um bruto como você nem 11er maltratadti. por l'l.tnguem... - Poli vá.•. Vá. S6 lhe pe– ço uma. coisa, não e~agere; diga il, verdade quando lá cheirar. Vo– cê semprE: foi muito mal educa– da.... E' frre11r.11nsavel! ,..,.. ~. pio ~? Irresponsavel é voe~ ... um eoitada que nln;uem 11abe donde veio! ... Atl~giu-me o pento nevr$-Jg!– co d& 11en1lbllldade. Donde viera eu? Quem eu era? Um coita– di, !. . . l'a&O sim, um coitado! Euar ,uet.me : tlcua. m lógica pan revi~. Sim, sou t.udo !MO e mais o que: vecf f!Utser ... e ti.cabemos com ll- discussão. ~ pretende ir embora vá. E' evidente que foge a.qualquer responsabilidade quer viver ociosa e· inut\I. Inutil sim; é o que você Hll\Pl'e foi. I,.,evantou-se da cadeira OJ:1- dt ,e blllançava, fitou-me num gesto (ie desllflo e, bruscamente, os.·alhos padando em lagrl~. enc.errou~i;e no qual1to. Demo.. roµ-6e uns qulnM minutos e sai1.1, de roupa de r,asselo, ajeitando ~ c11,bel~ rebeldes ~b a chapéu esi,orte. Quando estava no ~rtão, ti– ve vontade de tolhe-la, de pe– dlr-JJ\e i,ar11, fiel!,?'. mas :reagi o e1tleiwme. Vi que ela. atrave;; sa.va a rua, eubJ• a. el!,l9&da fronteir11., bo– nita nQ léu veat.l<Unho leve, to• :n11-va o 01'1lbu1 e desa.parecia. ·A"t1denm-11e ·as luzes. Fi– quei. 16 em ea.sa e, ou por causa da hora crepui;cuk,r, ou pela IZ'lte'1'Upoão do h4.bfto de alguns ane1, 381ltf-me invacUdo por su– bfta. tristez11,, embora me quisesse cenvencer de · que est (l.va l!vre, t'JUe nlQ tlnha et~lp~ direta no que e1tava aconteeondo e que, talves..• ela voltasse. Entrete.nto, os dla5 pa.ssavam e Ma.ria. X..ulta n4o voltii.va . Co· m.eçet 11, ine sentir lnquleto, sem aleçi& num• aolidã:o pavoro- ,C- ,,,..__ - Jevou-rne a épocas di!erentes ela minha. vida.; épocas que \'6• cardavam fatos relacionados eoin pl"b:na. Gertrudes. Agora eu la. visitá-la ... Os nossos destinos nos af~t:at– ram tMltQ gl.\e, por flm anefe– eeu a grande e;;tima que nos li– ge,rg, em criança. Da longe em longe, troca.vamos cartas que quase sempre tratavam de llvros, de arte, de viagens. Eu vivia no Amazonas e viajava. atra.véa de rios longtnquas e i;,alustres, a servtço <b um'.I. firma comercial de Manáus. Meus tios moravam no Rio e ela estudava num eo– léglo l!Strangetro. o velho dese– java aposentar-se, o que seria o fim de uu1a carreira burocrati– ea para a qual nunca tivera vo– cação. Com 11eu teinperamento retraido e melo selvagem, odia– va a civfilzação e a,-pirava a vi– ver ern Fortaleza, numa casa retirada entre coqueiros e rodea– da de alpendres. Subtamente, um d1a adoeceu os MUS planos se trl!,nsfor– mar:1m. A invalidez apressara a apr.sentadoria t,ão desejada em outras circunstancias. Tinha que ficar ainda no Rio e eapere.r qu-, a filha concluísse o curr,o. Tempos depois, prima Gertru– des recebia a diploma e, num dia, inesperadamente, partici– pou-me o seu noivada. Sentí co– mo se fora umo, tradição! Por que? Esperava porventura que ela um dia :Cesse minha? J!)' cer– to que afagava essa idéi&, como uma leve esperança, um bern inatingivel. . . Vivíamos, e:ntre– ta.nto, tão dilt.u1te! Nunca hou– ve uma oP<Jrtunidade. . . Eu não tinha melo de vida assegurado: tmbalha.va no comercio e pas– sava de patrão a patrão, sem est;;billdade, :;em economias. Pouco depois, regressei ao Ceórâ. Ela se casara e, dois anos após, o marido era assas• slnado ao sair de um clube, em Juta com um desafeto pel';Sôa}. Levou.se o caso à conta dos fa– tes de hora e :,rima Gertrudes, sem :filhos, voltou a. mornr com os velhos e a viver do pequeno montepio que lhe deixara o mà– rido. Eu, já encarreirado no :tun~ cionalismo publico, casara-me tambem. A primeira visita sucederam outra~. Depois tornei-me assi– duo. Todas as tarqes, quase que invariavelmente (exetuados os domingos e feriados, quanqo en– ganava o tempo nos esportes, p.os cinemas, até à noite), ao deixar a repartição, dava uma volta pelos cafés, olhava as vi– trinas das livrarias à procura de alguma novidade. :ficava um pouco na Praça do Ferreira ocu– pado na observação das mesmas cenas prosaicas, lia o placa:r dos jornais e tomava o onibus que havia de me levar ao bairro on• de moravam os meus tios. Jan• tava com eles e ficava até as dez e mais tarde da noite, quando me recolhia para dormir. Ai, sentia que só aos poucos me restabelecia do golpe sofrido com o abandono de Maria Luiza. 0$ aposentos desertas vam ,- PROV FAREWEL L Poema de Pahlo NERUDA (~dução de MAliIO 2"4USTINO, par& A P~CVINCIA DO PABA') Do mai!'. profundo de H, CICO!'lehegacla vmo cl'ianço, triste corno eu, nos olhq Pelo vido que lhe t1rdes.se nas veias teriam que !',)rend~r~sc nc,ssc;is vidas. Por essas mõos, fit11as de tuas mãos,, teriam que m::ata, us minhi:is mãos. Por seus olhe>s abertos na terra verei nos teus lágrimc~, um dia. Não o qur,ro, omacir1, Para que nade; nos pre,nda, para que. nada nos l""ª· Nem a p0k1vra que perfumou tua bor.,, ne!l'l o que d 1 sseram tuas palavras Nem a festa de e.mor f'lUe não tlvemo~ nern teus solu~os íurito à janela .•• (Amo o amor dos marinheirot que beij~rn e se vão ... Deixorn vma prom~~-tr.i E nào voltam nunca mais ••• Em coda perto u'a mulher espero, os marinheiros beijarr e se voo . . • Uma nciife dl~itam- se c:om a rrorte ro leito do mar .•. ) Amo r, amor que so reparte f:rn beijos, leito e pôo. Aomr que pode ser eterno como ~ode ser fu~a:z. A'Tlor que de eja libertar-se paro tor()rr,or a anior . .. Amor divino que se cprcxlma, Arl"lor divir,o que se vai ... Não nu:1is se encq1t<Jrúo meus olhos emt~us olhos, n: e mais se amenizar6 1 junto a tí, minha dor . .• L~vorei porem, o~é onde for, teu olhai' e o1é onde chegares levarás minha dõr. , • Fui teu, fostes minha. A quem amos? Juntos percorremos u1n tre"'ho do carn:nho por onde o arnor r:e,ssou F i teu, fostes minha. Senás do que te amar do que colher em teu horto o ~ue eu semeei. Vou-rne. Es~ou tr:sie; porem sempre ~::tou tri-ste. VF.tnho de 1eCJs bra~o~ e não sei paro r.,nd vou. De teu coração diz-me adeus uma cricmça. E eu lhP. digo adeus. ARTE E LITERATURA Página 7 América -- como ela é Regina PESCE St. Augustine, Flórida, maio Lcon cairegO'tl se-..1 1.avio com de 19•7. a dita água, na volta à Es• S.t·. Augustine foge tão com- panha, esperançoso de que, eom p~etamente da rotina das ou- a continua.ção do "tre.tamen• tras cidades que temos corhe- to" o ml111.gre se reaJizaria_ !..• cido, que 5e tem a. impressão Mal sabia, então, que estava. de estar em outro país. :.~ois simplestp.ente aorescent'3.ndo St. Auguatine, imune à alegria uma nota pitoresca a u~a ci- dos balneários e ao atordoa- dade que faria parte, mais tar- mento dos grandes centro~. ape- de, de uma das maiores na• sar do progresso ainda conser- ções do mundo 1 ];'assados sé- va. o ar vetust.o da época dos culos, o turista encontra hoje conquistadores. Algumas rue- um belo parque, alí onde Pon• ias sinuosas, pavimentadRs de ce de Leon encontrou Seloy, pedras, resistem ao modemis- um vilarejo de índias. JJ:spa,~·sos mo do11 tempos sendo, na reait- sobre seu1J canteiros relvados, dade, páginas da. história de dando vii~ à, História, a1'lt1gos Bt. Augustine, - a cidade m.ais jarros de índios. "botijaa" on• ant.tp dos J!;stados Unidos. ·a- de os espanhoes traziam .izel- quela onde Ponca de Leon de. te de oliva, velhas armas do sembl rcou !)ela. primeµ-a ve:i;, guerra, entre as quais um ca.. cm 1313. nhão ao lado de uma âncora, Cô'!Tia a Europa, nessa época, ambos carcomidos e meio pe- & le11cla de que nossa Mãe trificados, que pertenceram à Terra trazia escondido o ~egre- malograda esquadra francesa. do de um elixir milagroso qtle de Ribault, a qual andou por restituía a juventude. Com a essas águas ,,m 1564. A's mar- descoberta do Novo Mundo, izens da costa, u111 monumento novas esperanças :tortalece:am singelo indica o lugar exato do essa crença, pelas proba.bilida- de:iembarqu!'l de Ponee de Leon. des que oferecia um lugar ain• A' sombra de árvorei; frondo- da inexplorado. Além de que, sas. mn peq\ieno lago mergulha apesar de longe da civilização, um p da.90 jie céu em sll:as a lenda era igualmente alimen- águas, anilando-as. E os cis- tada entre os na.tivos, que dela nes alvas. navegando docemen• falavam aos europeus, em suas te, nada. mais são do que pe• viagens às Indlas Oclc\entais. quen~s nuvens r<raciosas, a des- Piziam eles qua muitos, já, ti- dobrar-se em reflexos irrequie• .nh&m partido m busca da tos... n.~pois, n1tturalmente, Fonta da Juvent.ude e nunca há sempre uma visita à Fonte, maia 'li!nh ni volt.ado, consti- hoje be1n prepa:ada para rece- tuindo 1~ um prova de que ber vi11itantes, os quais encon• haviam sido felizes ! Corria tram Iügíenicos oopmhos ds me4ma a. hi tóri de que um papel a dar uma not!!- mocter- homem, de nome Andre:i.s, par- na dentro da rusticidade da tira das Bahamaii valho e para construção de pedra. E os que lá voltara moço e vigoroso, até ali vão, mesmo pertencendo a mesmo casa.do e com filhos, uma época em que essa Uu- havendo pessoas que afir!na.- são já não viceja, ainda acei• vam terem falado com os des- tam beber uns goluihos... par eendentes de Andreas... via das dúvidas ! . . . . Entre os muttos espunhoes As glórias ~ derrotas que to- que ouviram a lenda, estava dos esses obJetos r~presentam, Juan Ponce de Leon. Já tendo são contadas ao turista por um e~tado nas Indias · Ocidentais preto baixinho muito velha, o pa,ra c;inde fõra CQm CrisrovãÓ qual parece ter salta.do do pas- COlomba. conseguiu permiMão sado para vir contar às novts da Côrte para partir à procu- geraçoes a epopeia das gerações ra qe Bimini - a ilha "lá pa.r:\ antigas ... os lados do :Norte" onde, se- Mas, fora do parque as. fQ- 8\lnda a erença, se encontra- cordações aparecem a todo ms• va a Fonte da Juventude. Ao tante. A casa mais ve~ha e:xls.• de!ll'.al' San Salvador, porém, tente nos Estados Umdos, um uma tempestade levou.o a de~- antif10 mercado de es<irav~. viar ~u rumo. E, em 3 de também a mal~ velha escola qe abril de 11)13, estava pisa..::1do madeira do pais, vez por ou~ nova terra, que julgou ser uma uma carruagem guia.da por um. ilha, e à qual deu o nome do cocheiro em libré. •• . La Fl.O'l'ida: E, olhando a Baia de Matan• Ainda hoje podemos Vf:r a zas, o Forte San Muco, ~- pequena fonte que o navegador lhando uma sombra, pesá.da 50• espanhol acreditou ter, afinal, bre o earripo de es(luecida.s ~a- el'). eontra.do coJJJO sendo a FontP. talhas... Sobre ele JA d,rapeJa- da. Juventude. Suas água.s con- ram as bandeiras de E11panha, tlnuam Hmpidas e frescas, ho• Inglaterra e dos confederados. je eomo então, mas somente Hoje, dando vida e cõr a.os elas resi~~m ao temi!º· .. sem mul'O!i Uma.centos, a bandeira querer desiludir•se de súbito, dos Estados Unidos tremula ante a. falta de um.a. transfor- feliz, numa promessa de 1'&21 e mação repentina. Ponee de prosperidade 1 levenocentrodoseabelospar- A FIG; AO E º• HO,ME,M tidos em trança:. é emoladoã em bandos sobre as orelha&. Não podil!, falar sem trair-me e fi- .n11Ai 11- 'LC.il 'n f i crinffr-'I tTA

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