A Provincia do Pará 03 de agosto de 1947

I.IL ~au .l.tlli VVC.LJ .--a.v, formando agora parte da. Pisgah Natlonal Foreat. Cen• tro desso. propriedade é a Ca– sa Biltmore, cuja construção iniciada. em 1890, ~ um mo• delo de riqueza e bom gos– to. Hoje aberta ao público, com o consentimento de suo. prel!;ente proprlet ria, Mn. John F. A. Céctl, única fi– lha de George Vanderbllt, 1'~ o vi.sJtante p!141lr ante geu.; olho maravilhados, uma Jn • :finidade de objetos raros e preciosos, que tramformam a. casa num verdadeiro mu– seu. Para chegar à bela mim– são, o carro atravessa 3 mi– lhas de estrada pavimenta– da, toda ma.rgeada de aebea :tloi;idas, através de um par– que cuidadosamente tratado. E, ao cbegar, enfim, dlant, a vu r Ill,1:UlUO U • nas das óperas de Wagner. De frente para a entradc.. dois tronos· de estilo goti– co e, aó longo das paredes, cinco tapeçarias do aeculo XVi, representandó a histü~ ria de Vulcão e os amor~s de Venus e Marte. Há uma. lenda, não confirmada, se– gundo a qual essas tapeça · ria.,, tecidas com fios de isê– da e ouro, adornaram a ten– da de Francisco I, rei de França, por ocasião de iseu htstórlco encontro, em 11)16, com Henrique VIII, de ln• glaterra. A grande mesa de madeira pesada, rodeá.da de cadeiras :torra.das de qamàJ– co vermelho, descansa inu– tn, lembrando festins pas. sados ... A Sala de Jantar, mais 'l– dlante, nos mostra aua.s pa- COMO NASCEU A biblioteca nacional de Paris Jean GALLOTTI (Oopyrtgb~ elo 8ervlç0 l"nzict. d lJ1tOTmação) ~o a gente vem do "Qi,iartier Latin" e atravessá. o sena, pasaando depois pe– lo Louvre e oa jardins ador– mecidos do Palats-Royal, en– contra o Palâcto da Biblio- N aclonal, como a Te!• ~ Prometida do Esplrito, no ipn de uma longa viagem a– travéa das regiões banhadas duma luz de história e de in– téllgencta. Quando nela se aitra. vindo dos "Boulevar– d.5", a. b1bllotéca aparece co– mo um refugio contra o tu– multo. De qualquer lado que ae olha, es~ grande ilha de pe– dra, enquadrada. por quatro ruas, assombra. pela 6Ua ex– tensão e impõe respeito. A h11eruia. fachada. da. rua. Rt– c.helieu, reconstruida sob o Segundo Império, é cheta. de austertdade, mas ao fundo de> pátio interior pavimenta– C:o, e corpo do ediflcio, devi– do a Robert de Cotte, irradl– " 1do as mais puras graçaa do f!CUlo XVIII, imprime a to– d,, aquele ambiente de s1len– c1o um sorriiso que se concre– tiza nos traços encantadores das quatro 111usa5 de marmo– re que ornam o pórtico. Quando se entra nesse pá– tio, a en sente-se logo imunizado contra a vuliari– dade, como que libertado da opteesáo da. matéria e tor– nado cid dlo dtun mtmdo rnbrnetldo às leis e cluslvas do pensamento puro. Tudo se prepara para nó,, num desperta, de cultura. o 31.ber e os sonhos das gera– ções; vamos encontrar all, perduravel, o tempo desde a invenção da escrita, e conse!'• Va.do, há mais de rnil anos 110. França, pelo que houve, entre os homens de mais ex– clarecldo na cultura. como se sabe, essa biblio . téca, a mais preciosa d~, mundo, considerada pelas su s rlquez~ e antiguida– des, tem por origem as cole • ções pessoa.15 dos reis, na5 quais entraram, pouco a pou– co, muitos manuscritos que, desde a idade médla, tinham &ldo conservados ou compos– tos nos mosteiros. Jean le Bem e Carlos V, no seculo XlV, foram os primeiros que constituíram urna blbliotéc'l real. Desta, infelizmente, parte foi enviada para a In– tlaterra, donde voltaram a-– i:enaa poucos documentos Mas, no · seculo seguinte, a "Petlte Libraire", de Luiz XI fnl o que constituiu, realmen– t'! o embrião da Bibliotéc!!. Nacional de Paris. As aquisi– t6 s, os donativos, às vezes M confiscações, as naciona- 1120.ções dos bens dos emigra.– aos e do clero, durante a RP,– ,olução, e, enfim, o deposi– tr, legal, m dida tomada por l"ra.nclsco I e que obriga to• du o editor ~ enviar para a BibUotéca um exemplar ·dfJ ceda livro saido de suas ti• pografias, aumentaram pro digiosa.mente a. Bibliot ca real, que, dalgumas ccnte• nu de volumes atinge hoJ c(:1ca de seis m ões de im– pressos, de 123. 000 manus– critos, 3. 500 .000 gra.vuras e um numero conslderavel de peça.a antigas de moed e medo.lhas. De.sde o seculo úl– timo, a tmportancla du co– le~õe~ contidas na. Btblio~– c.... Nacional de Par!JI. deter– minaram a organiza9ão de cinco Departamentos dl1e– rentes: o dos Impressos, dos Manuscritos, das Gravuras, da Musica e Medalhas. . ---- - -- -------- - go ao entrar nesta sala, o que primeiro chama a aten• ção do visitante é uma gran– de tela de Tlepolo, ultimo ar– tista notavel da escola Ve– neziana, falecido em 1770. Essa pintura, que cobre o centro do teto, foi adquiri– da por Mr. Vanderbilt dEl, um palacio italiano, 110b condi– ção de nunca revelar a iden– tidade de seu antigo proprie– tário. Sobre a lareira, d~ marmore negro cinzelado, pende uma tapeçaria italia– na do seculo X.VII. Como ra. ridades, vêem-se. ainda, trc, enormes vasos chineses, per- tencentes à dinastia Ming. No andar de cima, onde se vai por uma escada em ca– racol lindamente trabalha– da e que foi copiada do Cha– teau de Blois, há mais umas tantas salas cheias âe precio– sidades. Podemos salientar ,, quarto de Luiz XVI, com sua cama miudinha; dois sofâs onde se vêem as iniciais de Mai-ia de Médicis; um gran– de tapete, tecido na corte dos Shás da Persia; dois quadres de Renoir; uma arca espa– nhola, toda gravada, para. guardar o vestido de noiva: moveis portugueses. italia– nos, espanhois, holandeses - uma infinidade, enfim, qe objetos que falam da for-•. tuna de George Vanderbm Enquanto o visitante per– corre a casa, há sempre um empregado uniformizado, a pouca distância, observa dis– cretamente seus movimen– tos ... Grande área de terra é de– dicada ao cultivo de flores, havendo estufas apropria– das para fabricar o clima in– dispensavel a certas especies Tres são os jardins mais im– portantes: o Jardim Italiano, o Jardim ]).1:urado e o Jardim da Primavera, e uma bela piscina desafia a arquitet1n!J. moderna .. . Deixando a Casa Bfümore e seus jardins. o carro atra– vessa por outros laaos, onde se vêem campos infindos •cultivados. O gado, que vez por outra nos aparece. pas– tando indolente o capim nu– tritivo, fornece a Leik.ría ins taJt:.da na propriedad.e, de onde dezenas de cam!nhõ..?s partem, diariamente, dist.ri – buindo os laticínios alí pre– P iados. Ao todo, ma.is de 700 pes– soas trabalham em Biltmor~ Estate - esse pequeno Eden criado pela fantasia de um homem que, nascido pobre, soube aproveitar a fortun~ com que, um dia, a Sorte o presenteou, desdobrando-a. em belelZa e encantamento. LEI A M: "0 C U Z E I R O" a melhor rew,ta aer 1oeaun perce o. :m quando a oport\l– nidad para essa. variação, tão rica de conteúdo humano, se oferece num paí.s, estrangeiro, onde tuqo é dlferentP. e estra– nho, a lingua, os hábitos, a fi. sionomia dos lugares e das cot– au e até o clima, a· experiência. assume aspectos l)Orejantes de intprevisto e um sabor curioso de aventura.. saudet; 1'0!' i8SO, co:m wn tn– terêsse muito vtvo, o inicio das aulas, numa semana típica de fim de Ano inglês, fria, cinzenta e desa8fadável. A Universidade de Londres espalha seus nume– rosos colégios em enormes e dl• ferentes prédios, dos mais va– rJados estilos e nos mais desen• oontrados pontos do West End Londrino, no bucolismo encan– t.dor do Regent's Park como na felura desoladà do Bloo– msbury e na. confusão comercial do Strand. Nesta última, numa ruela escondida na curva im· perial de Aldwycht.. funciona a. Lonàon &mool of .tXonomtcs, a LSPJ, na g1rta estudantil. Se a destruicAo de certas ireas de Londres não é tão fantúti– camente total como fa.ziani eu– põr os exagerados notlciárioa de guerra, não é inexato d1ter que mesmo nas zonas menos atingi– das é muito raro encontrar•$O uma rua onde a paM11,gem do conflito não tenha ficado ma• terialmente assinalada. As vezes é um único pré<:110, raspado at~ aa ra1zes, num quarteirão, no resto miraculosamente intacto, ou vidros e portas arrebentados e substituido11 por tá.buas pesa– das e tristes. A LSE não escA· pou à provação e nos aois pri– meiro11 periodos letivos em que a frequentei, a entrada se fazia por uma nêsga escondida. entre os a.ndaim~.s de reparo. E êsse pormenor de desconfórto, se bem que fortúito e consequente à emergência. calamitosa da guer– ra, valia como um aviso tímido do estado geral do Interior do prédio - um casarão frio, eE:cu– ro, de longos corredores f;oturnos e salas núas e descon&0ladas, eis a imagerp. que me ficou do reduto mais avançado da mais revolucionária das Universidades inglesas, aquela que não visa apena~ preparar "gentlemen", para a defesa das tradições do Império, mas indlvínuos ade~– trados para a. luta pela vlda no século do ctn a, do rácflo, da guerra total e da bomba atô– mica. O primeiro innl da popula– ridade de Lask! como professor. é dado pela e.·tensão das turm!!.s que comparecem à.a suas aulas. turmas enormeg, pontuais e as• siduas até o fim dos cursos - detalhe importante, porque ~ bem raro. Nos curso:s a q11e as– sisti a frequência. atingia a al– g1.1mas centenas de alunos, pe. quenas 1nultidõe~ heterogê~eas, onde havia gente de tôdas as idades, se bem que na maioria. muito jovem, ele tõdas as cõres. raças e paises. Ohinl!ses e ma– laios1 de faces cavadas· e olhos inqu1étos, ind~ macilentos e distantes, negros de deptes al– VQs; arabes; toda a .iunérica, .:io Gana.dá à Argentma; ettropeus dó Continente e "4té ingle~es" pa.ra usar a expressão mordaz com que os fílho11 da terra acen– tuam o coi;mopoJitismo de LGn• dres. uma: e]i:celente oportuni– dade de aprox!ml!,Ção universal. mal aproveitada, como ~pre, poi/l que os eursos co1neç11-m e acabam r;em que se e~tabéleçam entre. os alunos, as mais tenu'ls relações de camaradagem. Hatold Laski, personalidade tão fascinante no que se reflete em seu:; livros é, em ~~ alio IIBim como uma deéep$10. lhe- o ménf.ô e n C(mO verdadeiro fermento junto à mo• cidade, mostrando•lh4 que a or– ganização t!OclaJ comf)Orta ou– tras !órmas e outroa conce1t fóra dos padrões at.uals e pre– gando, pelo u exemplo al, a corairem de i!l"Ofesaá-1 e oe lutar por 6lea. Sl to de es– querda e de OJIOSI~ àa f • las clássicas do reifme capita.– lista., Laskl põe sua poderosa capacidade de anê.Use e de eJt– pressão a serviço da. crítica mais impiedoso. às incoerências da ordem socie.l vigente e a certos contrassensos da demO(lre.c1a britânica, cuja existência, por deftnição contesta. E é um pra– zer ouvi-io, mutto calmo e pre• ciso, muito sarcástico e muito parco de gestos, dissecar a so• cledf!.de atual com a frieza cien• tiflca de quem faz uma autópsia, !em falar no que tem de origl– nal, para um estrangeiro, acos– tumado a conmderar a Ingl&te"!'• · ra e, de um modo geral, o mun– do britânico, como um baluarh, dos direitos e das liberdades hu– manas, assistir, "ad hoc", à contestação de tõdas as virtudes polfticas .que tornaram famosos 011 povos da C:omunidade Britâ– nica de Nações ... E ainda. que divergências ideológicas afastem o ouvinte das conclúsões do mes– tre,. é dlfícll resistir ao fascinfo de sua argumentação - quan(lo. ~ exemplo, contesta a exis• têncla de democracia. numa so• ciedade onde há diferentes ni• veis de capacidade econômica, o que vale dtzer, di!erentes graus de liberdade - dessa gradação de liberdade resultando, oomo corolário, a ausência de igual– dade real entre os membros da 11ociedade. E onde os homens ntio são igualmeute livres, COllClúl êle, não há democracia. Outro tema muito do agrado de Las!tl é o da neutralidade do Estaélo na concepção politica do mund"> ocidental - na organização ca– pitalfstica da sociedade humana, afirma êle, ·o Estado const1tu1do em última análise por um grupo de sêres falíveis e passiveis de êrro, no exercício de poderes 60• beranos, age sempre no .interêsse da facção que detém o poder, via de regra no tnterêsse dos que possuem riqueza:s. Onde. pois, indaga, a pretendida neu– tralidade? Discutindo a "regra da maioria", !az Laski unia a.firmação audaciosa - se as so.ciedades democráticas devem agtr baseadas na opinião da maioria, não há argumentos que justifiquem a exclu!lão de qual– quer cidad.ão do número dos que podem opinar e escolher como deve ser governada. a sociedade. Estabelecer diferenças de rel!• gião, raça, fortuna e educação para negar a pJrcelas do povo o direito de oto, por exemplo, constitúl unta limitação arbitd.– ria e atenta.tóri,,. à liberdade In– dividual. A exelue:ão de an11,lfa– betos do processo eleitoral, 11US• teqta. êlet é um verdadeiro des– respeito 11, personalidade huma– na, mutiladora do próprio con– ceito de democracia. A faculda– de essencial para uma bõa escolha é o bom. 1sem:o e não o grau de cu,lt11r!l, e educação qos in<itviduo11. Ter ou não ter senso comum Dnta. discernir entre o que convém e o ql.le não con– vém é muito maia ini• po~ante, quando se tr11-ti,. d~ ei;– colher a quem entregar a 'dire– ção dos nesócip:i públicos, do que :sabei: Iêr e e~r~ver. Se um grau mínimo de çuitura é es• sepcial a todo P1embro de uma sociedade eivlltzada, é dever prl, má.rio dessa sociedade provê-lo a todos os l!leus componentes. A falta. de generalização dêssc =m3a dfu c~• _,:. ee tem o nenao, ~m deuse!l, onde seu pallliO solitário ecô& Jugubremente . Nlo CQPhece1J10s muito mais o homem moderno do que o homem das cavernas. Est.e está. demasiado longe no tempo; aquele demasiado perto. Ou, melhor, o homem modemo ao– o:ioa nós meamoa, 11otremQs as mesmas taras que êle, e a úni– ca. margem pela qual o pode• m<:6 julgar . é a que separa a.a nOM&S anomalias das suas : ~ma dif;rença de g1~us, uma nuallce , nada mais..• 86 oom grande e.afôrço, por exemplo, se poderá dizer que, depois de tudo, é estranho que as rnâqut• nas, mais ou menos inofensivas quando foram criadas, acabas– sem por se converter quase sem– pre em máquinas de ma.tar; que as máquinás não sofreram essa. c.onverdo, por st só, que elas não fazem, decerto, senão e~primir e ree,Uza1· "à la lon– gue" 8.5 imagens mõrbidu que refluiam no subconc1ent.e do homem dos séculos XIX e XX; que, se as catástrofts se aba– tem sObre nos, a despeito do imenso esfôrço que fazemos, aparentemente, para a pr011pe– ridade, para a felicidade, é por– que nós as desejámos talvez secretamente, é porque tinha.– mos a obsessão malsã dl.s.so. é porque levamos em nós esse gesto pela desgraça, que tor– tura, afinal de contas, tantos nevropatas que não ae querem wrar. Logicamente - mas a lógica. não é a vida - a humanidade deve c.onstruir máquinas cada vez em maior quantidn.de, pela mesma razão que fará voar os aviões com velocidade cada vez maior e cada vez mais alto. O homem da.s má.quinas não se liberta.ré. d1,1s má.quinas se êle não se Jibertar de si mci;mo, porque o mundo artificial que elas lhe permitiram criar está com concorjâ.ncle. com as suas angústias, não é mais do que a sua projeção sôbre as coisas. Qual é a natureza desi;a ago– nia. ? Quais as causas ? Nesta altura. de mip.ha demonstração, talvez alguns leitores esperem de mim a ttrada habitual do escritor católico sôbre os temi– veis efeitos da incredul!dade. Parece-me que vão ficar decep– cionados. O mundo já está mul– to adiantado no cnminho ãa ·w.tséria. para poder suportar sem revolta nem nojo a.s c;te– monstrações dos doutores, e o espetaaulo de sua. íntolierável segurança.. Os doutores fazem– noa suas demonstrações como se abstraissem por completo dos males que analisam, quando sa- nização secial e $eus fins do que culpa dos individuos excluidos do processo de alfabetização, e lazer recair os ônus dessa fa– lência sóbre a par<;ela da ·socie– dade já sacrlffoada pelas limi– taçõe11 da inc1.tltura - termina - é um dos pare.doxo11 da orga– nização política d<;> mupdo atual. Acima de tudo, l.ll 'll filósofo polit.!co, nenllum tema atrát mais a Harold La.liki do que a análise e e, critica l!!OC~l, e seus cursos, quase ll-S~stemáticos no que se refere à. · didática, répr~– :ientl!-m llma suce~ão de bri• lhantes e en;ezmosas digressões em tõrnq d&~ assuntos, que poje, Plªls do que nunca, for• necem campo para as apaix0~ nadas especulações, quer do., eruditos professores da LSE, ql,ler dos discursadores domtnl– CIJa ão ~de Park. que e - que e um moao ae ser o que deve - o escritor não tem o direito de descer ao nivd do público e, sim, a obrigação de elevar o público ao seu nivel. Fóra disto, não há, mais do que capitulação. E assim negamo~ que o ingrediente mais impor– tante da compOSição literária seja o Jecteur Je plus proba.ble, de Valéry. Não; preferimos opor-lhe o leitor melhor possí– vel : o leitor que ajudamos a fazer, deapertando-lhe no cora. ção o sobrehumano gôsto do Ampllus ! Amplius ! apostolar. Foi o que fizemos; foi, ao me– nos, o que tentamos fazer, dêsse por onde désse. Na nossa entra– da em matéria, não trazíamos futuro ou passado literário; compromissos ou cobiças de qualquer natureza; mira fôsse no que fôsse, preenchível ou desfrutável por nós. Nada diste; nada. Não descera.mos de Ca– rua1•ú; tendo já visto Nápoles e, pois, já podendo morrer - es– távamos isento da fascina.e-Ao do pechisbeque. Acessos, com'endas ou prebendas não figuravam no ról dos nossos alvos. Não; os índios e que, como índios, to– mam um retalho de baêta ver– melha po1· uma. coisa calda do céu. NÓ6, não; tanto ficara fórs. do raio da nossa ambição o la– tão fulgurante das condecora– ções, como o sut!l entorpecente das sinecuras. E fazía•nos mal aos nervos a glória de vldrilho dos currais de letras, êsses po– bres limbos enfumaçados de in– censo e tmntantes de choca.lhos, em que medra e reluz aquela velha alucinação dos carneiros, que temiam vêr em si mais qufl a sua profunda carneirice origt– nárla. Reagindo contra essa genera– lizada sensibilidade ao proveito, tão característica das épocas ,1e salve-se quem puder, sensib!l! • dade a que atirávamos de lnfci,), com algumas palavras pesadas, a. luva tradicional do desafio - em verdade buscávamos uma so– lidão magnífica. Jl: encontramo– la. Mas, não há maior dignidade do que estar sozinho em Oo– morra ... J!:, ao menos, a lição de Sto– ckman : não importa ser o ini– migo da poesia, quando se pema apepas no bem da. poesia. Aft– nal, _nunca imaginamos que o malentendido não !õsse uma ba. nal!dade, como a luz do sol. Se continúa aquela crise de credu– Udade e de bestialidade, denun– ciada há tanto e tanto por va. léry, por que no$ espantarmos diante dela ou dia.nte dos seus porta-estandartes ? O papel do escritor não é te– mer nem calar : calar é um mo– do de fugir. O paoel do escritor é derramar o coràção até a úl– tima. gôta de verdade, que traga no f12ndó ctêle. Isto, sim; o mais é politica. Evidentemente, num momento como êste, estremect– do das vibrações iniciais de um tcirremoto, ma!1; do que nunca "we see nothi.ng clearly", dize– mos com Sanders : "all objects are wvested with a certa.ln da– guee of myi,tery ". ll': o mistério agreste da transi~o. É o x110- mento em que abundam aqu'!– las colsais de que, observou Mae• terlinck, "li n'est pas possible de parler cJa.irement". Não fap la.riamos claramente: fala.riamo,; possivelmente. o dever não es– tava na clareza: estava. na pa• lavra. Dlganio3, eis a! : os oup tros quo o enténdam. Que o ad 4 vinhem, se preciso. Não são l; i.ti– ~nos, também ? Bem pouco sisnificaria que. ameaçado. nas delfcias da ds– composição, se atirasse contrl\ nó&, com a sua conhecida im– "OOtência protozoária, a massa re,·. • ;:,a1.m•1nm,, 1 l até a medula, que não havia lugar para a pontualidade que sabe calar divinamente e mfl.!s divinamente ainda sabe ganhar, depois que todos perderam no fragor da luta. Sabíamos, e m1• biamos de todo o coração. ccmo só são sabidas as coisas que são sentidas, que se acabara a é.ca da duiponibilidade gid~,ua, on– tem mesmo relembrada ·.::elo .. Tristão de Ataide e tão ãôce na sua polivalência inte:ior. Em face .de uma socieda:;e que ,;e afunda, dia a dia, nrs agruras da dissolução, por fôrça das suas contradições internas, das suas contradições insolúveis e pro– gressivas, sabiamas, sabíamos como os que melhor soubessem. que - ou tornaríamos posiçf\,I) ou seriamos banidos dos qn~,– dros da espécie. Agora, perguntemo-noe a nós mesmos : valeria a pena. hoJe. que periga como nunca debaiX'.l do scl a condição humana, em– punhar urna pena para 11er, nem mais nem menoo, um réles rou– xinol r.omo o sr. Raul Ma,cbado ou um fétido chacal como o ar. Plinio Salgado,.? Ora, tlnhanfos doiis aspectos a considerar na ação dêate mc'-– desto 1·odapé : um, remoto e amplo; menor e imediato, o ott• tro. Era, primeiro, o estado prt,– sente da terra; um caso coa– ereto de agonia. Depois, o estado presente do meio; um caso con– creto de comédia. Aqui, começamos por uma d.ló· cordância inexorável com a ne– gligência enquanto esgrim!am, sõbre toda insubmissão, a ;1111e11- ça inartistica verem os ccrdéls da sorte sôbre mil e mil <; a.be– ças; parecia mentira. E, 1,0 cn• tanto, não poderíamos n~:,,:,-k). Criaturas primárias, C::;, 1n,i~ obtusidade confrangedo1;.1, m,,. nidas não obstante da rnra::;em de afii-ma.r que culmino•.1 cm Munchausen, tinham reb<;(::::.d"> dos carrascais da provi11c-1'l es suas tendas de nômades 1 :irll. verem-nas transfigurad:J.f· ·na Avenida, em santuários onde deJtavam oráculos, recolh:::nc'.o proventos, com a má fé c1 6 1.r.a das cartomantes de subú.rblo. Organizadas, em bandos, dentt ') o baralho velho e a ousadia leonina, fóra o temor da1, vft:– mas dispersas e o rosnar rafel,·ri dos sabujos, que ganhav~m cs segundos lugares e ais mençõ~s de honra, perpetuavam a s 1 1a onipotência, enquanto esg:tiam. sôbre toda insubmissão. a amea• ça inartistica da policia e eia. difamação. Incrível : um:;. ci– dade, uma geração, uma naçit') inteira8 toleravam essa. chanta.– gem esdrúxula. - E cust,ou tão pouco, co11;! um pontapé, deitar de pernas para o ar a sua grii– sacerdotiza ! Não ca,iu miser11-– velmente, mostrando, coma di– ria aquêle velho de. Lif,f6tmta, o qunr não foi feito para mostrar– i;e - cunnun ostendes ? Certo, a estranha malta t.en – t.,.ria revidar; tentou-o. M&R, debalde. De1Sde os t.empc.r, de Virg!l1o, sabemos que telmn im.:. belle stne ictur: nã,o nc,l~nta fazer fôrça quem nâo t("!m i.õr– ça,. Interrogado, com a profun– deza peculiar aos que u~:im pa– letós como os se1is e aos que, corno sua pitoresca pessôa, ao– trem da dansa de são Guido. uma das poucas :moléstias dadas à. coreogra!ia que a patologia conhece, equiparou-nos (! li(• Marques Rebêlo. ao sr. ..\d~I Filho; isto, porém, f!erá um. dfs objéto de julgame11to. Não se erra assim impunemente. Em troca, vir-,ram em nossa defesa os entusiastas; entre éles, o mesmo sr. Adonias Filho. O 1>r. Adonias Fllho é pouco intelige11- (Continúa na S.º par.)

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