Treze de maio - 1845

(2) ao medico; este se approximou, pegou na mão que· eu ouvisse já da vossa bpca as vossas cút.; do penitente, e depois de hum momento de si- pas, recebei a absolvição sacramental _e prepa~ lencio disse, abanando com a cabeça. Fazei o · rai-vos depois para receberes o Corpo, e San– que elle . quizer. O doeu te ouvi o este aresto, e- gue · de Jesus Christo, que vou dar-vos. Então apertou a maõ de quem o pronunciou. Entaõ nos pozemos todos em oração, e depois o peni– Estevaõ deo suas o'rde:ns: trouce-se hüa cadeiri- tente commungou. Quando recebeo a Santa Hos.;. nha de maõ, ·sobre a qual se collocou o peni- tia passarão · por seo rosto huns calafrios .. r, •• tente, e nos encaminhamos lentamente para a Olhou para o Céo, apertou a mão de Estevão Igreja. Lembro-Qie perfeitamente desta tarde: com doce sorriso, e depois hum fraco suspiro era no mez de ·Maio: o Céo estava mui limpo,· sahio de sua boca..... foi o ultimo. e claro; os sopros de hum vento fresco espalha- Na noite do dia seguinte enterramos o pe– vaõ no ar todos os perfumes da floriria vegeta- nitente. Estevão . escolheo este momento para .çaõ da primavera. O vermelho do orisonte an- que a morte deste desafortunado fosse tão igno– mmciava o proximo pôr do Sol. Quando che- rada, como tinha sido sua vida. Não havia no gamos sob o portico da Cathedral Estevaõ fez funebre acomp<;tnhamento, senão os que o con– signai de parar-se por hum instante. O peni- duzião eu, e Estevão. Marchamos em silencio: tente orava com fervor; conheceo a pedra, so- o Céo e.:'itava coberto de nuves: hum chuveiro bre que chora~do se ajoelhara durante tantos nos esperava a porta do cemiterio. Elle nos annos, o pilar em que se appoi ava, quanclo seo conduzio a travez de hum laberinto de tumu– corpo naõ podia resistil· á fadiga, e a Vfrgem los ao logar, em que o do penitente tinhíl sido no seo nicho, que estava colloca.da sobre a por- aberto, Era ao pé de hum pequeno bosque de ta da [greja, a quem tantas vezes havia suppli- pinheiros. EstevãoTezou em -altas vozes · as ora– cado. Com esta vista seos olht)S se cohrira_õ de ções dos mortos . O silencio, a obscuridade, o im– Jagrirnas, seo rosto brilhou com hüa · alegria ce- penetravel mysterio, que involvia o destino d'a– leste. Entrou-se para a nave, que estava qua- quelle, por quem se recitavão estas orações, tu– si deserta. Alguns fieis supplicavaõ aqlli, e allí, do imprimia a esta scena hum não sei que. de ajoelhados a sombra de pequen as c;1p.,,., Jla ,; . O or- estranho, de terrível, e de solemne. O estronJo gaõ repetia pianamente a partitura de hüJ. mis- de hum pouco de terra lançada sobre os lados sa, que devia ser cantada no dia seguinte. Os dn caixaõ arrancou-me das reflexões, de que ultimos raios do sol se introrlusiaõ, como pó de estava profundamente occupado. Neste momen– ouro atravez de vidros coloridos. Esta solidai", to as nuvens se desviaraõ, e deixaraõ no Céo esta harmonia encobt~rta, , esta meia luz mys~ hum intervallo livre; a lua cobria com seo do– teriosa preparavaõ a alma p;,.ra as mais santas ce clarnõ toda a extensaõ do cemiterio: hum de emoções. Collocou-se a cadeirinha junto a gra- sr os raios atravessando a negra folhagem dos de do côro, e Esteva<"> foi tomar os habitos sa- pinheiros se cravou na cova do penitente, como cerdotaes. Vendo o altar, as velas, que ardiaõ, o melancolico adeos da àeação. Estevão disse . os vasos sagraJos, que se tiravaõ do tabernaculo, o eu em voz baixa, naõ vedes neste raio da penitente apoderou-se de hum convulsivo tre- lua, que desce sobre este caixaõ, que a terra mor, · de hum terror indisivel: agitava-:SP- em vai cobrir, hüa imag;em do per.dão de Deo~, que uossos braços, occultava ·com suas maõs o rosto, desce sobre o penitente, quando expirou? De– e escapavaõ de seo peito exclamações inarticu- pois de alguns · minutos a cova estava arrasa– ladas. Fez-nos entender, que queria absoluta- da. Entaõ Estevaõ tomou das maõs do covei– mente, que o pozesserr.os de joelhos: quando es- ro hüa cruz de páo, que eu ainda naõ ti– te desejo cumprio-se: Perdaõ ! gritou elle, pros- uha visto, e a enterrou no lugar da sepultura. tando seo rosto sobre a pedra, perdaõ ó meo Agorn disse elle quereis saber o nome do pe– Deos ! o sacrilegio foi horrível, trahi, _como Ju- nitente: elle m'o revelou algun instantes an– das trahio; mas tenho chorado tanto! perdaõ ! tes de sua morte. Lêde. E approximou Ainda murmurou outras palavras, qlle senão pll- hüa tocha á cruz, que havia acabado de plan-– deraõ ouvir, mas cujos accentos nos encheraõ de tar. O epitaphio era feito nestes - termos. espanto. Etienne Robert Estevão volta. A sua presença faz entrar Requiescat in pace. al gum so<:ego na alma r:lo penitente; que por . . Hüa hora depois voltamos silenciosarnente outro lado tinha exaurido suas ÍO!'cas nessa ulti- para nossa residencia. ma convulsaõ. Estevaõ se inclinou' ao seo ouvi- i\Ias o nome de Roberto me tocou. Quan– do, e lhe -fall ou por muito témpo. Á sua voz do entrei eni minha casa fiz indagações n'hu– se via esclarecer o rosto do penitente, seos olhos ma serie de jornaes da revolução, que estav ão tomar esperança, seos terrores dissiparse. Meo lançados n'hum canto de minha biblioteca, e irmaõ, diz elle com hüa voz, que se extinguia, que havia reunido, a fim de éstudar nos es– chegou o momento 'de vôs confessar meo crime. criptores coevos este periodo da nossa historia. Todos os que estaõ aqui se apprnximem ... . este E stas pesquisas não forão infructiferas. Achei o ultimo castigo..... Estevão o interrompeo: meo artigo seguinte n'hum jornal de 15 de Feve– irmão, Nosso Santo Padre o Papa vos perdoou, reiro do anno 2. 0 Escrevem de D..... depar– não queremos saber mais desse passado, basta tamento de....,; Hoje o Club dos _Vi~gaoorc1,

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