Treze de maio - 1845

QUARTA-FEIRA PARA' NA TYPOGRAPHIA DE SANTOS & MENORES, RUA D'ALFAMA N.15. ~ 1845. Ü PENITENTE . Oontinuaçaõ do_ N. 0 501 . No fim de hum dia, em que o doente ti– nha passado com mais tranquilidarle do que o o ordinario, ainda que a. meos olhos não era, senão hum, dia de agonia . . ... Não esperavamos ~ais carta do Papa .... Estevão acabava de sa– hir . . ... Não devia voltar, senão com os habi– tos de officiante para administrar ao doente os ultimas Sacramentos. Derepente ouço sobre a estrada deserta hum ruido de passos precipitados . . .. a porta se abre: Estevaõ entra vivamente: Eis aqui hüa carta de Roma, gritou ell__g. Hum ru bor subito cobrio a!> palidas faces do penitente; e seos olhos moribundos lançaraõ hüa brilhante scintilla. De Roma, repetio elle com hüa voz fraca ! . ... de Roma! .. . ·oai-m'a, dai-m'a ! Oh! D ~os ! He o dia da minha morte, que escolhestes para ser o dia de . voss!l misericordia 1 Seria isto hüa du– plicada graça, ó meu Deos ! Sentou-se na c~– ma, pegou da carta, quiz abri-la, mas suas maõs tremulas se r{Wusaraõ a isso. Então elle a es– tendeo a ~stevão, e lhe disse: Lede he a minha sentença, eu naó tenho força parn abrir e!lta carta, e meos olhos cobertos de hüa nuvem naõ poderáõ decifrar os caracteres. · Ah! Lede. Es– tevaõ leo. A carta continha a auctorisaçaõ do Santo Pa<lre pa1·a o penitente poder ser absol– vido: estava assignada por Pio 7 mesmo, que annunciava ao - penitente, que podia entrar na Igreja, e approximar-se aos Santos S acramen– tos. Oanathema levantou-se diz Estevaõ: demos graças ao Senhor, que foi tocado de vosso arre– pendimento. O moço Vigario segurando a mão do penitente ajoelhou-se. A maõ estava gelada; por que o infeliz tinha acabado de cahir em hum desmaio. Corro a procurar soccorro; empre– garão-se todos os meios passiveis para o fazei· ,!olta1· a :,í. Quando tornou a abrir os olhQs, dis- se-nos em voz baixa: Sonhava tão docemente 1 para que me despertastes1 Parecia que meo peito se descarregava de hum peso, que ha bem annos o opprimia ! - Isto naõ he hum sonho disse brandamente Estevaõ, mostrando-lhe o Bre, 1 e Apostolico; e depois leo-lh'o segunda Ve'l. Quando acabou o penitente estava taõ palido, que julgamos hia expirar. Tomou com tudo a carta e a levou silenciosamente a seos labios. Meo irmaõ, continuou Estevaõ, vossas forças es• taõ es(l'otadas: hüa mais atut'ada emoçaõ vos se- º . . ria perigosa, he preciso, que. vos conserveis _pa.. ra hüa nova vida, em que h1des entrar: retiro– me, e vou dar graças a Deos em seo templo 1 por ter sido clemente para com vosco. Aqui tendes hum medico para vos dar os soccorros 1 que vossa posiçaõ exige: demanhãa . . .. . O pe– nitente fez signal para ficarmos, e depois de res– piran Eu morro diz elle naõ procureis illu– dir-me sobre os poucos instantes, que me restaõ. Oh! he huma grande graça, que me faz o Eter– no, tirar-me da terra hoje, que me perdoou. Meo irmaõ, ao presente posso dar-vos este no• me: meo irmaõ a8 vontades dos moribundos são sagradas, e por isso naõ podeis recusar-me a exi(l'eneia , que vou fazer-vos: órdenai que me tra;sportem a essa Igreja, a cuja porta gemí por tanto tempo: ao pé_ des_se altar, . que tanta~ vezes ·ví com olhos de rnveJa ! oh ! piedade ! da1 esta ordem! Naõ ha hum momento a perder. Sou hum desterrado, que quer dar o ultimo sus– piro na sua patrh: quero morrer na ler~·a pro– mettida. .Mas v s estais taõ fraco! balbuc10u ES,– tevaõ com hu:a voz entrecortada por choros: de manhãa..... De · manhãa não será mais tempo, gritou dolorosamente. o enfermo. Meo Deos ! se pudesse dirigir-me só a vosso templo sem ne• - cessitar de ser sustentado!.. .. . Reunio suas for.. ças em hum momento convulsivo 1 e levantou-se. em pé.... . deo alguns passos cambaleando..... Se- os joelhos se curvaraõ, e cahio em nossos bra– çosr .Estevaõ com .hum olhar rapido fez signal

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