Treze de maio - 1845

1 f2!!! SABBADO. TRIMESTRE. PARA' NA TYPOGRAPHIA DE SANTOS & MEKORES, RUA D'ALFAMA N. 15. - 1845. 0 PENITENTE. Continuaçaõ c/,o .N.. 0 500. Naõ posso dizer-vos o que se passou iiesta entrevista, continuou o penitente com voz rouca; bastar-vos-há saber que depois de me ter ouv.i– ~o, o Papa resuscitou para mim hüa penitencia dàs mais severas dos primeiros tempos do Chris– tianismo. Ordenou-me de tudo deixar: parentes, · amigos, fortuna: de hir occultar-me n'hum can– to da .França, e de observar a penitencia, que me vedes fazer. Com estas condições, me diz el• le, hum dia talvez possamos absolver-vos . Que– ro beija1·-lhe os pés, porque naõ esperava hüa tal graça: mas elle recmou. Vós nos escreve– reis todos os annos, me diz elle com hum tom severo, e nos dareis ·conta exacta do emprego da vossa vida: eu creio nas vossas palavras; por que acredito na sinceridade de vosso arrependi– mento. Recebereis hüa carta assignada de nos• so punho, quando · a justiça do Céo fôr ~atisfei– ta. Entaõ sómente podereis entrar na Igreja, e assentar-vos á meza dos Christaõs. Hum mez depois, quebrei todos os vinculos, que me uniaõ á vida. Minha familía me julga mor-to, e com ef– feito morrí para ella. - E ha 10 annos, que <fora a vossa penitencia 1 - Dez annos. He pouco. .:.._ N aõ tendes noticia do Santo Padre 1 -Nenhuma. ✓ Estevaõ abaixou a cabeca. Naõ teve forca de pronunciar hüa palavra, apertou a maõ d~ pe- nítente, e partio. · , Passado algum tempo o penitente ca-hio do– ente. Recus!m dar attençaõ a •hüa incfisposiçaõ, que teve por ligeira, porque sempre julgava mui robusta a sua compleiçaõ. .Mas os jejuns; as vi- gilias, e as austeridades o tinhaõ abatido. Hum dia, que se havia arrastado do seo costumado lu– gar, debaixo do portico da Calhedral, não téve força para voltar a sua habitaçaõ: foi necessario levarem-no. Deste dia em diante sua molestia começou a agravar-se. Estevão correo para o pé d'elle. Quan– do este homem se Gonsiderou em perigo de vida perdeo sua resignaçaõ, e firmesa. 0-esesperou de poder alcançar perdaõ do Céo. A agitaçaõ de seu espírito inutilisou todos os soccorros da ar– te, e o poz em hum estado de desesperaçaõ. Sal– vai-me dizia elle a Estevaõ: salvai-me: naõ con– vem, que eu morra. Oh! estou perdjdo se mor– ro sem absolvicaõ ! Estou condemnado ! Pieda– de! Salvai-me! Oh I absolviçaõ ! a absolviçaõ ! quero viver até a absolviçaõ ! Estevaõ escreveo para a Corte de Roma, mas naõ esptrava que sua carta chegasse a tempo. Como o moço Vigario tinha · seos deveres a cumprir, foi preciso alguem para o substituir junto ao penitente durante as ausencias, yue era forç ado a fazer. Eu fui o escolhido para isso, e naõ posso pensar sem orgulho nest~ signal de sua estima. Colloquei-me junto a cabeceira do penitente, e naõ o desamparei. Foi elle obrigado a acceitar hum colchão, e hum cobertor. Este– vaõ, e eu cercamo-lo dos mais sollicitos cuida– dos. De dia descansava hum pouco, mas de noi– te cahia em hu!ll terrível delirio. Estevaõ fazia quanto podia para o firmar, e lhe dar· esperan– ça na misericordia cele.ste. Vós não morrereis, lhe dizia elle; he só a vos– sa agitaçaõ, que entretem o vosso perigo. Vós naõ morrereis: e alem disso 10 annos de hüai penitencia tal, como a vossa, saõ hüa expiaçaõ sufficiente para todos os crimes. Para todos gritava· o penitente crusando os braços, excepto para o meo.

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