Treze de maio - 1845

SABBADO ~~. 6 TRIMESTRE \ PARA' NA TYPOGRAPHIA DE SANTOS & MENORES, RUA D'ALFAMA N. 15. - 1845. o PENITENTE. Historia contemporanea. Quando Pio 7 foi (por Napoleaõ) obrigado a vir a Pariz em 1804, ou o Santo Padre sa– hisse de seo palacio, ou nelle entrasse, ou lan– çasse huma vista d'olhos pela portínhola de sua carruagem ou viesse das Tueteries, ou de Notre Dame por toda a parte lhe apparecia hum ho– mem, que representava ter 30 annos, mas sua figura estava abatida, e seos caheHos começavaô ja a encanecer. Seo exterior mostrava pouco cuidado no vestir, mas naõ indigencia: apenas .conservava elle da mocidade huns olhos vivos, mas sombrios, que tomavaõ hua expressaõ in– disivel, quando os fixava sobre o Soberano Pon– tiffce. Pio 7 dava muitas graças a Providencia, cujos inexcrutaveis desígnios o tinhaõ levado a França. Esperava de naõ encontrar ahi se naõ o insulco, ou a indifferença, e de todos os lados lhe vieraô homenagens. Homens manchados com t?da a sorte de crimes durante o tormentoso pe– r1odo das revoluções, àpoderados avista delle de respeito, terror, e arre.pendimento vinhaõ pros– trar-se a seos pés, confessando-lhe seus crimes, e pedindo perdaõ ! (Intitulados) sabios, que ne– gavaõ a alma, e se faziaõ gloria de professar o . . . atheismo, subjugados por hüa de suas palavras, .-_ ou por hüa de suas vistas, ajoelhavaõ subita– mente, quando pas.sava e choranrlo recebiaõ a sua bençaõ A postolica. Pio 7 gosava com hiia ~oc~ alegria deste triumfo inesperado, e dava mte1ramente graças ao Omnipotente Deos por ter posto em seo rosto; e ter dado a sua boca os dous attributos da celestial grandeza - doçu– ra, e magestade. - Comprehendeo logo que o bomem, que .estava taô obstinado em segui-lo por toda a parte, tinha algu~a e~tranha reve- laçaô a fazer-lhe. Hum dia pois, que se diri– gia a Saint-Cloud, fez parar a sua carruagem a entrada dos Campos Elysios, e assegurando com hüa vista d'olhos, que o desconhecido o seguia em seos passos, mandou dizer-lbe por hum de seos officiaes que lhe queria fallar. O homem avançou a passos Jentos, e quando se aproximou a carruagem a joelhou, e abaixou a cabeça sem nada dizer: O Papa inclinou-se com bondade para elle, e disse-lhe: - Ha longo tem– po, que nos seguís, meo filho, qual he p01s o vosso desígnio '1 Que pretendeis de nós? A nos-. sa Bençaõ Paternal? O desconhecido fez signal com a cabeça,' que naõ. -Como vos chamais ? O desconhecido moveo os labios, mas só o Santo Padre entendeo sua resposta. -Quereis confessar-vos a nós? Sim meo pai : meo crime he taõ grande que estou persuadido, que hum só homem no mundo recebeo de Deos poder bastante para me dictar hüa penitencia, e me dar· absolvi– çaõ: este homem sois vós. --Meu filho diz Pio 7 com tom grave, nun.. ca devemos duvidar da misericordia celeste. Vossa falta he talvez bem grande: mas Deos he seguramente muito melhor. D epois do que tenho feito, respondeo o desconhecidü, cuja voz começava a ser cada vez mais fraca depois do que tenho feito he talvez ultrajar o Céo esperar que elle me perdoe. --He hum tal pensamento, que ultraja a cle– mencia Divina: se viveis ainda, he, vos bem o vedes, por que Deos vos quer conceder tem– po para vos arrepender-vos. Ouvir-vos-hei es– ta tarde. --Meo pai, armai-vos de coragem, fazei que estejam~s ~em sós, que as portas estejaõ bem

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0