Treze de maio - 1845
[S] VARIEDADES. - O macaco ]adran. = Le-se nos periodi-. cos francezes o seguinte: Ha al{!,uns dias que se tinha notado muitos roubos em lwma das cazas de mais inquilinos na rua de Vangirad, e sem que se pudesse descobrir o ladraõ, por mais di • ligencias que se jizessem. Com tudo ácerca dos ronbos appareriaõ du,is• circunstancias mui diver– sas: hMma, que os oújectos roubodos eraõ de pe– queno volume, como por exemplo hum aljinete, hum relogio, brincos, bolças ~; e outra, que isto a– contecia nos dias de bom ·tempo, em que os inqui– linos tinhaõ as janellas abertas. Ruma noite, que /mm medico inquilino da pro– priedade foi chamado pr,ra visitar hum enfermo, onde passou quasi toda a noite prestando rm:çi– lios ao enfermo , ao recolher-se para sua casa poz todo o cuidado em naõ fazer bulha, por naõ in– commodar o~ seus 'Disinhos. Já ia encaminhan– do-se para a alcova quando sentia rumor, e cor– t·er huma sombra dirPita á janella, que estava a– berta e dav(I para hum saguaõ, no qual se pre• cipitou. O medico ainda que sztrprehendido lan.– çoit maõ ás suas pistolas, e chegando á janella disparou sobre aquelle vulto, que se escondeo no çano do sflguaõ. Os visinhos, que tinhaõ aber– to as suas jonellas ao estrondo do tiro, viraõ sa– hir o vulto do cann, e correr para a escada. En– taõ os mais curiosos dirigiraõ-se ali, e seguiraõ os rastos de sangue, que se viaõ na escada, até a hzlm quarto nndar, onde morava hum velho que tinha huma cupioza livraria; e batendo á porta, a primeira cov.za que virav Joi hum grande ma– caco estendido () hum conto no chaõ todo ensan– guentado, tendo ao pé de si huma cadeia com ltu-n rdogio, que d~pois se soube pertencer ao medico. Deo-se entaõ busca á casa, e por de– traz dos li,,ros se encontrrtraõ quasi todos os objec– tos qzte fal ,avaõ aos visinhos .9. probidade do velho o salvára de toda a sus– peita. ( Do Periodico dos Pobres N. 0 223. ) Havia em Amadan, na Persia, urna aca– demia denominafa dos silenciosos, cujo primei– ro estatuto era concebido nestes termos: " Os academicos pensarão muito; -- escre– verão · pouco; - e fallarâo o menos possível. No reino da Persia naõ havia um ver– dadeiro sabio que rlaõ tivesse arnbiçaõ de ser admittido como membro desta academia singu– lar. O doutor Zeb, auctor celebre por um ex– ..cellente livri nho intitulado le Ballon, vi via no campo de uma província; mas constando-lhe que naquella academia havi.1 um lugar vago, pôz-se logo a caminho, e chegándo a Amadan, appresentou-se á porta da sala das conferen..: cias dos academicos, e pediu ao porteiro que entreg-asse ao pr-esidente da academia um bi– lhete concebido nestes termos: O doutor Zeó pede 6 htgnr que está vago. O porteiro cumprio logo o seu mandato; mas o doutor e o seu bi– lhete h;i.viaõ chega 1 fo demasiado tarde, porque o lugar já estava provido. A academia sentio desgosto com este con– tratempo. Elia algum tanto a seu pesar havia admittido um homem que por sua e1oquencia. viva e ligeira fazia as delicias da côrte e das praças; e agor-a academia achava-se na impos– sibilidade de admittir o doutor Zeb, que aliás era naõ só um engenho distincto e solido, mas o fla~ello dos falladores. O presidente da academia, havendo de com– municar ao doutor Zeb esta desagradavel no– ticia, achava-se em alguma difficuldade para desempenhar a sua cominissaõ. Mas depois de pensar um pouco, mandou encher um grande cópo d'agua, e de maneira que naõ podesse levar mais uma só gota sem trasbordar. Fez entaõ signa] para que entrasse o doutor Zeb. Este apresentou-se com o ar simples e modes– to que sempre acompanha o verdadeiro mere– cimento. O presidente, sem preferir uma só pala– vra, mas com ar triste, levantou-se e mostrou ao doutor aquelle cópo emblematico que se achava taõ cheio. O doutor comprehendeu logo que naõ ha– via lugar vago; mas sem perder coragem deu a entender qu e poderia ser admittido como academico supra-numeraria. Vendo entaõ a se– us pés uma folha de rosa, levantou-a e lançou-a na superficie ..(la a12:ua com tal delicadesa que naõ trasbordou uma só gota. Toda a assembféa deu palmas a esta engenhosa resposta; e, dis– pensadas as formalidades ordinarias, o candi- dato foi admittido como supra-numeraria. Apresentaraõ-lhe entaõ, como era de cos– tume, o livro de registo da academia, onde os membro novamentf' °ãdmittidos deviaõ escrever os seus nomes. Elle escreveo o seu; e deven– do, segundo o estylo, recitar um breve dis– curso ou phrase de agradecimento, o doutor Zeb como academico verdadeiramente silencioso, agradeceo sem dizer uma só palavra. - Es– creveu pois á mar~em o numero de lOO, que era o dos seus novos rnllPg~s, e pondo uma cifra ou zero antes daquelle numero por este modo 0100. accrescPntou - " Elles naô valerão ntrn menos nem mais. - Entaõ o presidente res– pondeu ao modesto doutor com tan ta polidez como presença de espírito, pondo o algarismo l antf's do numero 100 pela maneira seguin– te l l 00; e accrescentou: - Elles valerão dez vezes mais. ( Do Diario JV ovo .N. 0 248.)
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