Treze de maio - 1845

~ABBADO a~.º .TRIMESTRE, PARA' NA TYPOGRAPHIA DE SANTOS & MENORES, RUA D'ALFAMA N. 15. -1845. p ARTE RELIGIOZA. A Quaresma he hum jejum de 40 dias, que os Catholicos observaõ para sanctificar o anno, e se prepararem sanctamente a festa da Pascoa. A Igreja julgou em todo o tempo, que o j ejum era hum excellente remedio contra o peccado, ,seja considerado como um meio de dispor nos– sas almas á contemplaçaõ das cousas celestes, hü~ virtude que communica hüa grande tffica– cidade a ·nossas su pplicas, ou como um freio ca– paz de reprimir nossas paixões, e de tornar nos– sa carne mais docil ás leis da rasaõ, e do Evan – gelho. A experiencia dos seculos, e a sciencia da humanidade tem tornado estas verdades in– contestaveis: tem provado taõbem que os jejuns geraes, e regulares saõ de hüa efficacidade mui– to superior aos jejuns individuaes por causa do mutuo exemp1o, que se daõ os fieis, e da ernu– Jaçaõ que os leva a redobrar o fervor, e a co~– punçaõ. Quando esta piedosa emulaçaõ falta, co– mo entre os Protestantes, a pratica do j ejum he a penas conhecida. . Segundo S. Agostinho, S. Jerorrimo, e a maior parte dos Padres do 4. 0 e 5. 0 seculo a Quª-res– ma foi instituida pelos Apostolos. He impJssivel sustentar , que esta institukaõ deva sua origem a hüa decisaõ qualquer dos Concilios: o canon 69- dos Apostolos, o Concilio de N icea havido em 325, o de Laod ice~ em S6õ, e os P,Hlres do 2 . 0 seculo fallaõ della, como hum uso já observado em toda a Igreja. A opiniaõ de que a Quares– ma he de instituiçaõ Apostolica tem tanto de verosimilhança, quan to os A postolos es tabelecen – do-a naõ fizeraõ senaõ conformarem-rn as tra– dições antit:?;as do povo de Deos. Moisés esco– lhido pelo &terno, para ser o legislador dos J u- deos jejua quarenta dias para se preparar a re – ceber as ordens de Deos sobre o monte Sinai; observa a mesma abstinencia antes de receber as segundas Taboas da Lei. Efias jejua 40 Jias antes que Deos lhe ap.par·ecesse sol)l'e o monte Horeb. David observa hum jejum rigoroso du~ rante sua penitencia. Esther se prepara pelo je– jum a dobrar a colera de Assuero. Os Nenivitas jejuaõ 40 dias seguidos depois da pregaçaõ de J onas. S. Joaõ Baptista se dispõe pelo jejum a receber Nosso Senhor, e Jesus Chsísto mesmo jejua 40 dias no deserto antes de começar sua Missaõ. Todos estes exemplos naõ bastaô para demonstrar que a origem da Quaresma remonta- se as fontes da mesma Religiaõ 1 _ · Desde os primeiros tempos do Christianísmo a duraçaõ da Quaresma foi fi.xuda por toda a I greja. O Concilio geral de Nicea designa a Q uaresma pelo nome de jejum de 40 <l ias, e falla della como de hüa .practíca adoptada por toda a parte, onde tinha sido recebida afé Ch ris– tãa: muito antes dessa epoca, em 2.50 Orígenes chama a Quaresma hum espaço de 40 dias con– sagrados ao jejum; eraõ exceptuados ôs Domin – gos, e foi depois de Gregorio Magno que ajun– tarão-se 4 dias a Quaresma a fim de que fosse de 40' dias completos. A Quaresma commeçou entaõ naõ na D omiuga da Quadragesima, mas na quarta-feira precedente, que se chama Quar– ta fei ra de Cinzas. O j ejum consiste em duas partes distinctas; a primeira he a restriC'çaõ na escolha dos alimen– tos, qualidade,. e especie de nutriçaõ, o que se chama abstinencia; a segunda a prívaçaõ abso– luta de toda a nutriçaõ, que he o verdadeiro jejum. Em outro tempo quem jejuava devia por pre~ ceito rigoroso limitar-se a hüa só comida por dia: a hora desta comida era depois de se J;>Ô!."

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