Treze de maio - 1845
- 1'◄ 1 ' .QUARTA-FEIRA · !}3. . 0 TRIMESTRE. • PARA' NA TYPOGRAPHIA . DE SANTOS & MENORES, RUA D'ALFAMA N. 15. - 1845 ( Existencia de Deos,') Terra, onde o homem por hum dia levanta sua barraca de viagem, quem te tem feito taõ bella em tuas vistas, tão tocante em tuas har– mon ias, taõ pittoresca em teos contrastes 1 Quem lançou sobre teos lados esse soberbo ma nto de verdura tecido de flores 1 Quem te deo essa ca– belad ura de sombrios bosques 'enfeitados pela p lumagem de saph ira, de rubins, e esmeralda dos passaros 1 Quem te deo por faxas reaes os g ran- . des rios, é por cintura o Oc.ceano 1 0' ,êrra, conta, se tú sabes, que maõ poderosa , fi l'man – do-se sobre teo·aehatado polo, te inclinou doce– mente sobre teo eixo, a fim de que as e~t,,ç,iés succedendo-se hüas a outras, correspondessem : as diflerentes necessidades de tuas creaturas, e as salvassem do tedio gerado pela saciedade ? Dize, que maõ estendeo para ti, com a estofa– da garça das nuvens, esse magnifico pavilhaõ, em que brilha sem se consummir a immortal alampada do dia'! Terra es tu, que produ– ziste todas essas maravilhas? Es tu que povoas– te teos montes, tuas florestas, teos valles dessa innumeravel rnultidaõ de. seres vh 1 entes, que :lepois de assistirem por poucas horas ao e!-plen– dido banquete, que tu lhes estendes, tombaõ suc– cessiva1'nente em teo seio, como a flor murcha, e a- folha do Outono? . N aõ, naõ es tú, que sois escrava; os signaes de tua escravidaõ appa– reeem no meio de teos mais ricos adornos: tú estás suj eita á leis, e naõ as . dás. A materia inerte naõ póde produzir o movi– mento, nem commun~car a vida: he impossível dotar a outrem com vanta~em, que senaõ possue: hüa pedra, biia arvore, hum pouco de terra naõ podem repartir o pensamento, . o instincto, a intelligencia., a mais elevada montanha dos AI· pes he ·inteiramente incapaz de reanimar hum . mosquito estanguido sobre seo cimo. Quem te tem pois tirado do cahos, pequeno, · e• solitario · planeta, que brílhas como hfia pequena luz en– tre os grandes astros? Hum philosopho do paganismo, que tomou a liberdade de ser absurdo em bellos versos, ex– plica a creaçaõ do mundo pela agglomeraçaõ· fortuita dos atomos: mas despr.esa a origerú des – ses pretendidos àtomos creadores; tudo port anto se cifra nesse dizer. Mas ou alguem for mo u es– ses atomos, ou elles se crearaõ a sí mesmos: na primeira hypothese esses habeis, e imperceptí– veis geometras naõ saõ mais do que agentes de huma vontade st1 ;)erior, de bum poder mais alto: na s·egunda elles teriaõ obrado an tes de existir, o que naõ he p1·er.isamente logico. Des– presados os atom[.)s, r'estaõ ainda sobre a terra dous p8•Jeres, o bruto, e o homem. O bruto, que naõ tem algum cuidado <las maravilhas do uni– verso, qu e naõ p ensa em sua vida para semear a herva, que elle pasta, ou. a, semente do fructo, que consome: o bruto, · que como nós apreciei o calor na estaçaõ invernosa, mas que naõ reani• ma o fogo, que o.pastor rargou ·no chão, o bru.; to tem alguma cousa a · considerar na creaçaõ dos Céos? O mais ignorante se pronunciará atrevidamente pela negativa. A terra superabunda ·de creaturas de toda a especie; hüa só porem recebeo a razaõ em par– tilha, hüa só tem -seguido os astros em seu cur• so, cavado as entranhas do globo, para dahi ex• trahir os metaes, estudado as virtudes das plan– tas, cultivado as flores, melhorado os fructos, co– berto as planices de dou radas seáras, fo~ado as ondas, e os ventos a leva-l as as praias distantes: hü4 só tem tirado ao raio hüa faisca para sügei – ta-la aos U"OS da vida commum, e descobrindo a incrivel força do vapor, a tem substituido q.S velas sobre o oéeano, e aos ginetes u9s empoei-_
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