Revista Do Ensino 1930 - Maio v5 n 45

Daqui O r,rofes~or Jurubab a Conheci-o em Campinas, no Ho– tel Brasil. Trocámos, como é de p raxe, os cartões de visita. O delle era espalhafatoso e fazia a gente refleclir, como -0 caipira, que o h omem era "troço p'ra burro". J oaquim . . . (não me lembro mais do que), Jurubeba. Para mi,m., a despe ito de todas as crendenciaes, elle ficou sendo, s implesmen te, um grande cathedralico de cace– teação. Era nor malista ,pela esco– la normal de São Paulo e b acharel em scienci·as e letras p elo Gymna– sio de Campinas . Tyipo interessantíssimo. Quasi o J oão da Malta, de Adolpho Cami– nha. O Jurubeba ia-lhe mesmo a ca– lhar porque difficilmente se en– contraria outra pessoa mais "ju ru– beba. Resumbrava amargor em tudo. Até o seu sorriso tinha a tristeza ou a i ronia de um r ictus. Não era sorr iso: era a con tracção automalica de uns labios que ti– nham provado coisas nervosas, que ti nham tc,cado em tisanas de jurubeba. Um descren1e . Um s ceptico. E, por que os scep ticos são como os mo11pheticos, que têm a supersti– ção de se curarem contagia ndo as pessoas sãs, o professor Jurubeba tinha a preoccupação morb ida de extinguir, do espírito dos outros , o fogo do enthusiasmo, a scen telha do cyptimismo. Sabendo que eu era do magisterio publico minei– ro, o homem pegou-me para ju– das, como lá se diz. Durante os dias de minha estada for çada no hotel- emquanto esperava que o general Isidoro tomasse juizo e e dali deixasse S. P aulo em p az-tive que suppo r ta r toda a sciencia pe– ,dagog ica do professor Jurubeba . Foi uma to r t ur a realmente inqui- sitorial. . Mui-Las mil vezes tive arr ependi– men to de lhe ter dito que lambem era professor. Imagi nem que eu tomava -o meu café, ·de manhã, al– çava, fazia o lurlch , jan tava e to– mava o chá, á noite, s ob tempesta– cl es de pedagogia ! E, tarde~moi– do, ca-nça do, ap avora do, vendo em todos os cantos das ruas e das ca– sas o fan tasma pe dagog icamente ameaçador do p_rofe~so r Jurub_eba --quando me r eco_lh1a, S(!rrateira– men te ao leito, ainda mrnh a tor – tu ra não terminava. O h omem, vi– nha, mais jurubeba que nunca, vi– ctrolar pedagogia aos meus ouvi– dos até ás duas horas .da manhã t Cer ta vez interpelle1-o: - O prezado mestre h a de ter .um valioso a cervo de observações proprias .. . Por q~1e não escreve um tratado, um livro sobr e as questões mais rn.omen t_osas de n os– sa pedagog ia ? Nossa literatura pe– dagog ica é tã o pobre ... ,Respondeu-me com um much o– cho : - -Observar, meu amigo, é set' r etrogrado. E' desconh ecer as leis do menor esforço. O bom scien- 1 .lista é aquelle que segue as obser– vações alh eias. E saber fazer isso já é uma sciencia importan tíssima .. Imagine O senhor se eu, para co- 1m.er o mcn p ed!lço d e pão com man teiga, tivesse de ir para o, campo plantar trigo e criar vac– c as... De mais, um obser vador, por lllluit•o h abil q ue seja, faz, em toda. a s ua vida, de trab alhos e de pes– quizas, noventa e nove p o1· c ento.

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