Revista Do Ensino 1930 - Abril v5 nº 44

/ REVISTA DO ENSINO 5 Pode haver perfeita liberdade, alegria e trabalho fe– cundo, num ambiente disciplinado; a liberdade só se lraill$– formará em a!Ilarchia si o professor não souber conduzir a classe. Mas, a disciplina a que nos referimos não é a de braços cruliados e de silencio imposto pelo professor: - esta, obtida sempre á força de coacção, premios e castigos, é apenas exte– rior, provoca o desdobramento· da attenção e for.ma seres hy-. pocritas ou dissimulados; queremos falar é da que resulta na– •turalmente do trabalho activo, basea-do nas leis do interesse e da psychologia infantil. Encaremos a questão mais a fundo: - são dois os ca– minhos que o educador pode seguir com o fim -de implantar a -disciplµia em sua escola : 1.º - Lançar mão de meios coercitivos: premios, casti– gos, severidade, detenção em classe após os trabalhos escola– res, privação de recreio, sobrecarga de trabalho para os alu– mnos culposos e mil outros recursos deprimentes; · 2.º - Tornar o ensino de tal modo atlrahente, que a creança por elle se interesse e nelle se absorva : as activida– des infantis, forças latentes no intimo de toda creança, serão deste modo canalizadas para um fim util. Aproveitadas na obra educativa, em que se concentram pelo estimulo da curiosidade e do interesse, evitar-se-á, as– sim, que essas foTças se manifestem em actos perturbadores d·a ordem no recinto escolar. . Os castigos, de qualquer especie que sejam, estão hoje i~te1ramente condemnados: - deprimem o sentimento e, uma vez adoptados, exigem applicação cada vez mais rigorosa para que possam produzir effeito. Exemplo: castiga-se hoje uma creança por determina– da falta. Amanhã, si a crea,nça commette a mesma falta, o m esmo ·castigo será inefficiente · torna-se n ecessario o empre– go de uma penalidade mais sev~ra e, assim, o educador pros.e– gue numa gradação perigosissima par-a a obra que deseja rea- liZ'ar. · . Além desses graves inconvenientes verifica-se ainda, com taes processos educativos, o recalcamento de lendencias que as leis da hereditariedade plasmaram no individuo e esse recalcamento é um grande perigo 1J1a obra educacipnal. Nós, eduoadores não devemos praticaF a estultice de recalcar, violentamente, forças que ,a natureza poz no intimo

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