Revista Do Ensino 1930 - Abril v5 nº 44

104 REVISTA DO ENSINO accomodam mal com essas ares– tas verticaes que cortam as suas sinuosidades), - e o navio cos– teia lentamente a alfandega e se approxima do caes. (Juando não se é propenso ao enjôo, e tenho essa felicidade, ·a vida a bordo é r ealme nte. uma ~oisa deliciosa, de sorte que, ao preparar-me para desembarcar, não deixava de sentir uma certa melancolia. Logo no caes, aper– tos de mão, vozes ftancezas. . . De fral"!cezes talvez? Nâ•. ~[ns '·' engano é possível. São membros da Associação Brasileira de Edu– cação. Ha quem tome as nossas cartas para as fazer seguir de avião, ha quem nos retire as ba– gagens, quem nos conduza ao au– to; de uma só vez, foram-se to– das aquellas preoccupações que costumam envenenar as viagens , Nãu ha nada a fazer senão falar– mos francez e nos acreditarmos rle novo em casa. Pois bem! As– seguro-vos que quando se deixa um vapor inglez, planejando uma explicação em portuguez com al– gumas palavras aprendidas ra– pidamente no Berlitz e com o :, xilio de um diccionario de algi– beira, - experimentar, mais ou menos, a mesma impressão que já se havia sentido á chegada em Quebec, é uma coisa que espanta um pouco, mas que proporciona um rude prazer. Todas a; ::ittenções nos são dis– i:-ensadas. Sem duvida ha um ~ouco de vaidade, mas quão legi– tima, em nos mostrarem immedia– tamente os explendores da paisa– gem, mas ha lambem piedade por nós. Sabem que não estamos accli– mados ao ardor deste sol, e le– vam-nos para 2lmoçar a algumas centenas de metros de altitude. Subimos ao Corcovado . Percorre– mos a Avenida Central e eis-nos agora em plena floresta tropicn 1. porque a floresta, no Rio, está dentro da cidade. O funiculnr,. elevando-se em meio das arvores, espanta_ ess~s borboletas cujo re- no~e e universal. Vegetação lu– xuriante. Lá do alto, uns 700 me- tros, mais ou menos - vê-se tod·a a cidade, toda a 'bahia, todo o mar. . . O almoço foi delicioso, regado de agua, de guaraná e de cr.fé , como é de preceito . . A' noite, fui convidado para Jantar no Jockey .Club, pelo seu presi'd,ente, dr. Maga~hães, deven– do fazt r em segu ida, â-. 21 horas minha primeira conferencia. Voi– to, pois, ao hotel, visto-me a toda pressa e fico esperando. Haviam promettido procurar-me. Fico es– perando... 20 horas e tres quar– tos. 21 horas, 21 e um quarto... Começo a inquietar-me . Desço á rua, subo para interpellar o .geren– te do hote'l, com auxilio do pouco portuguez que possuo, peço-lhe que te l-ephone, não comprehendo, naturalmente, nada do que elle me respon_de, torno a descer, espio os veh1culos, mas não posso sabir porque está chovendo e não sei' de resto, p ara onde ir . Relampa~– gos, trovões como só aqui se ou– vem iguaes, e mais n.ada. A tem– pestade tornara inabordavel o Io– gar em que ia realizar-se a confe– renci~. Em. poucos mom~ntos, a, agua rnundara a calçada e fizera desapparecer os passeios. Nem os autos e os bondes podiam mais circular, nem os pasageir<J,; des– cer, a menos que se arrisc:.1sscm a ficar com agua pelo joelho . Eis ahi um certo aspecto do Rio, bem r~ro felizmente, e que se deve pre– cisamente ã sua situação, poi, to– das as aguas que caem sobre as suas collinas se precipitam n a b::i– hia, atravessando a cidade,-e as– segurar-lhes o escoamento conti– nua a s-er, para a municipalidade~ u~ grave problema. Confesso que nao nutro pelas conferencias um amor sufficiente para lamentares– se silencio obrigatorio, e prova– velmente teria sido preferível pa– ra vós que semelhante accidente occorresse hoje lambem. De-ixámos o Rio no dia seguin– te: a conferencia foi adiada por dois mezes e então revi o Rio com e seu melhor clima, que não é o do fim do verão. Recordarei espe- cialmente, e por muito tempo ain-

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0