Revista Do Ensino 1930 - Abril v5 nº 44
REVISTA DO ENSINO 108 ta, sem duvida, um papel occullo, acenavam-me, "là-bas", com um paiz novo e um esforço pedagogi– co de que agora mesmo aprecia– r eis as provas ; exprimiam-me o desejo de que as professoras da– .quella r egião fossem iniciadas nos t.•·ethodos que, após a morte d!! Bmet, me esforço por levar adean– te, e que são francezes, embora muita gente, entre nós, os julgue americanos. Fizera-se, aliás, a mesma proposta a .uma directora de escola, que não poud,e accei– tal-a. !riamos, pois, d-eclarar fal– l encia? Evid•entementc era nece– sario parti r. Embarquei em Cherburgo, num n avio inglez, da Royal l\fail Co., o "Alcantara". Tendo regressado, havia pouco, do Ca nadá e dos Es– t ados Unidos, não me sentia mui– to ate rrorizado com a perspectiva de novos contactos com "stcwar- tls" de cabine e de convéz, só fa– lando inglez, si bem que eu mane– je muito mal essa língua. Ademais, ,o "Alcantara", sob certos pontos de vista, é um bellissimo n avio, dotado de piscina, sala de jantar -e salões vastíssimos, com um con– véz de passeio muito largo, o que mão é de clesclenhar para os pas– seios habituaes - e não ha ou– tros a fazer durante 15 dias. Primeira parada em V.igo· se– gunda -em Lisbôa, que eu jâ c-0- nhecia e onde não desci; tercei– r a e ultima no Rio de Janeiro Do– :ze dias sem escala. Passámos á esquerda de T-eneriffe, de que vis- 1umbrámos o pico entre duas nu– vens, coberto de neve ás 7 horas da manhã, e atr avessámos a linha equatorial; aliás, só percebemos ~ssc facto pelo calor cada vez mais intenso que faz ia. Desde Lisbôa, a primavera. Mas passada a linha, si bem que tod~ (:Onvez esteja coberto, e to(ia janel- 1& escancanida, não entra um so– pro de ar. Mar calmo, alguns car– dumes de peixes-voadores e o sol implacavel. .. As proprias noites tornam-se asphyxiantes. Dia a dia se affixam noticias chegadas pelo T. S. F.: o gelo do lago de Ge- ncbra, o rompimento dos canos d"agua de Londres, a patinação em Paris... E' tiio difficil r epre– sentar-vos o calor que começava– mos a soífrer, quan to nos e,a a nós sentir fri,o, a despeito des– sas informações que brigavam to– do dia com a nossa situação. Marginamos a ilha ridenle tle F ernando Noronha, em que se lo• caliza um presidio . Avistamos a costa de P ernam– buco, - opportunidade para os passageiros acostumados á traves– sia contarem historias de tubarão, mais ou menos meridionaes. E' passivei que estejamos vendo o dorso de alguns delles. O calor torna-se cada vez mais penoso: um haUto pesado, uma continua transpiração. . . Apesar de tudo isso, h a b aile no tombadilho, ;nas a verdade é que a gente quasi não p odia supportar as cabines. Ago– ra, precisam-se as informações: devemos chegar ao Rio entre 2 e 3 horas da madrugada. Noite de insomnia, é claro. Ba– gagens amon toadas á pressa, e de– pressa no tombadilho! . Entramos 1,en.tamente entre os fogos dos pha- roes. A linha das montanhas per– fila-se, arredondada e sombria, emquanto que toda a bah ia é il– luminada por uma rampa electri– ca de muitos kilometros. A' es– querda, á direita, á frente, por to– da a parte em que se lance o olhai;:, vêm-se fogos . Navios passam na obscuridade, deslisando sem ru– mor. O nosso delem-se, somman– do-se ao silencio. E a espera nes– sa obscuridade, com a vida que sentimos tão perto, mas que a es– sa hora não se ouve, deixa uma impressão inteiramente extranha. Depois, eis que bruscamente o céo se torna r oseo, as mon tanhas se tingem, e o mar apparece, sem uma vaga. comn fie chumho. Es– se raiar de aurora me pareceu, a principio, antes sin istro do que alegre, mas de um;i grandeza in– comparavel e fulgurante. Manchas verdes aqui e ali, casas branca~ arranha-céos (felizmente raros, porque as curvas das collinas se
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