Alma e Coração 1930 - Anno 12 - Fasc. 11 - Março

, , 2 Expediente Toda a correspondencia para este jornal deve ser enviada para a redactora-sec reta– ria, caixa postal, 168 e travessa Apinagés, 10 JESUS VENDIDO Quando Jesus se apresentou aos homens como filho de Deus, sabia a sorte que o es– perava até a ultima hora; toda a sua vida fõra escripta, dia a dia, antes do seu nas– cimento, pelos prophot11s. Sabia, tambem, que a semente da sua palavra atirada á face da terra, entre car– dos e espinhos, g·r.rminaria pouco a pouco, elevando-se a arvore Christã cujos ramos cobririam toda a terra e á, sombra d'ella COJJmemorariam a morte do que a plantou. Quando João Bn ptista chamou os Judeus á purificação, pelo baptismo que representa o symlolo da rnsurreição, Jesus compre– hendeu que se aproximav11m os seus tem– pos, para o sacrificio; tinha, então, trinta annos. Esse tempo, chama-se : era de J e– sm, era christ-ã. Menos de dois mil anuos nos separam d'ella, menos de dois dias, e hoje ainda estamos na plenitude dos tempos . Dois mil annos são passados; . Jesus nos chama ainda : seu segundo dia não passou. Ainda por valor metallico, que nem che– ga a ser valor, continúa a ser comprado e vendido. Ha dois mil annos nutrem-se seus re– presentantes d'esta victima: Está _sempre intacta -e os vendedores não se saciam. Cada um de nó~ deu a sua quota, infi– nitamente pequena, para comprar a Judas. Todos conti·ibuiram para amontoar a somma, é por que o ~y?terio se torna cada vez maior e se mult1pltcam os seus des– cendentes. Todos os recantos do templo não bas– tariam para contet· as moe?as ga~has_ até aos nossos dias, por estes trmta Dmhe1ros, dados cru troca de milhões de anuos de liberdade, e de Vida. . So' Jesus não foi trahido, foi vendido. d1,is se res, no mundo, conheceram o segre– do-Je.us e Judas . O · indicio mais ter ri vel da transação é a funcção quo tocava á Judas entre os apos• tolos : era alie o depositado das offertas e do dinheiro, para as despesas ela commu– nidade. O d111hoiro é perfido, embriaga o ambi, cioso . Ch risto o sabia. Jesus escolhera a Judas para que elle fosse um flos doze. Como os outros, pregadot· da Bôa-Nova, confiou-lhe o que havia de mais caro e de mais precioso-11. pr~gaçfio do Reino. Judas cria; cria, até dema!s, que Jesus era ver– dadeirameuto o Chr1sto. Só Je;;us, que pene trnva no fundo da alma de Judas, como de todas as. al_:11as_, sa• bia de antemrio de ci.ue 11. negoc1açao 111fa– me estava eííectuadu. parn que nada fal– tasse á tortura da grande expiação. Resta a J esus um dia de liberdade - o ultimo dia. Reune os doze para a ultima ceia, quasi funebi·e, na casa de Simão. . Dois, dentt·e elles, por motivos contra- ALMA E CORAÇAO ------------------------- rios, estavam mais emoc ionados que os outros. Os dois q LlC não veriam a noite se- guinte. Os que dev iam morrer : Jesus-e Judas . O Vendido e o vendedor, o filho de Deus, e o homt::m que o vendeu. Jesus distribuiu entre os doze, o pão, di– zendo: assim como divido, dividireis meu corpo em varias seitas e falsas doutrinas. Estende a taça com o vinho qm1 todos 1 bebem. (Eis o sangue que por vós hei de derramar para salvação de muitos e eter– na embriag·uez além da morte . J ud11s, como os outros, comeu deste pão e bebeu d'este vinho; nutriu-se cl 'este cor– po que vendeu, desalterou-se d'es te si-.n– gue que vai ajudar a derramar. <<Digo- vos, em ve'l'dade, um de vós me venderá» . A estas p!tlavras os onze discípulos es– tremecem. Jesus sae, dirigi-se para o monte das Oliveiras ; ahi ora, emquanto os dois unicos discípulos que o acompanhararo, dormem. Eis que as chammas das tóohas se apro– ximam; o rosto de Jesus mais luminoso que as luzes, offerece-se ao beijo do ven– dedot· Jesus apresenta aos soldados os seus pu– nhos, para que o amarrem, e o triste cortejo segue para o palacio de Caiphaz. Jesus foi immolado, e seus algozes, amontoados em volta do Calvaria, vêm a terra fender-se, os mortos resuscitarem. Mas, os corações das testemunhas fõram mais duros que os rochedos; estes mortos com apparencia de vida n1i.o resuscitaram ao supremo chamado. Eis qne a dezenas de seculos foi emittido esse gritg e os ho– mens centuplicaram os rumores da sua existeucia afim de não ouvil-o. Incline-se o nosso espirita ante o mys– terio inviolavel do Crucificado; mas, so– bretudo, não esqueça nosso coração, o pre– ço po1· que foi resgatada a nossa immensa divida, que todas as nossas lag rimas reuni– das num oceano amarg·o não compensam . .,, , uma so 1 1 es tas gottas cabidas, pesadas e rubras , no loga1· do Craneo. Não basta chamar por quem só deu la– grimas, é uecessario combater o fogo d'al– ma. Combater em nós o que nos separa de Jesus. E' um acto de consciencia a abertura de u~1a porta, que existe de_ntro do cora: ção, a. arfectuosa recep~sf\O feita ao que foi vendido, pelo metal que mfLt: tnn~ns cor– pos, e quotidianamente m1lhoes d almas. Mas nós, os Ultimos, esperamos-te. Esperamos-te, cada dia, a despeito da nossa indi g nidade. Não ficou pílrdida a promessa divina do que <l eu a comer o pão do seu corpo, o pão da Vida, e aiuda, cada dia, levantamos os nosso· olhos a este mes– mo céu, para onde se ergueu e donde deve descer, de novo, no tremendo Brilho da sua gloria - o eleito Jesus. Marcos Al'guelhcs. .. • AUXILIAE Tomando uma assignatura Fundador - FRANCISCO DE P. MENEZES D esencarnad o em 1926 Director - Archimimo P . Lima. Redactora-secretaria - Elmira R. Lima. CARTA ABERTA Meu caro ... Vejo que reflectiste bastante so– bre a$ proposições da minha ultima carta. A penas n'um ponto pareces di– vergir. E' quanto á necessidade que jul– gas de bom aviso, nos tempos que corre m, de nos preoccuparmos com as convenções socia es que muitas vezes attritam com a nossa modes– tia e a simpleza do nosso caracter. Orn, meu amigo . A abnegação é um sacrificio na esteira do aperfei– çoamento da creatura. Não te preoccupes com o conven– cionalismo , não e~cutes o que dizem de ti, não te illudas com as appa– rencias enganadoras dos que se di– zem teus amigos. Re fl ecc iona e acceita a vida como a vida se te apparece, e sejas o unico juiz dos teus actos. Deus lerá no fundo da tua con– sciencia e te dará conforme o teu merecimento. Tens o preciso para te fazeres amar, sem impostura e sem exte– riores e inve nções banaes, Conquista o res peito de ti mes– mo ~ serás amado e respeitado. So as a lmas vulgares se illudem q~ando pe nsam attrahir a si as opi– n_1ões da~ massas por uma apparen– c1a ex te ri o r. As cons iderações elas gen tes mu– dam como as folhas das arvores no estio. T odo aquel le que não reíl ecte o seu mund~ int~rior illumin ado por uma consc 1enc1a sã v e rá o seu or– gulho ferido, a sua ~ra id.1de D batida, as suas maldades ás cla ras, no me– mento mesmo em que mais se jul– gava senhor da situação fabz que com sacrificio sustentara. As suas mazellas postas a desco– b~rto rompem o véo das apparen– c1as. Na vida nada ha occulto que não venha a ser conhecido. Se ? esejas trabalhar, para o teu ape rfeiçoamento moral e intellectual enche-te de fé. A tua vontade em todos os tran– ses angustiosos e diffi ceis te tornará senhor de ti mesmo. ~- os botes traiçoe iros dos que te qu1ze rem abater na arena, voltarão repulsados, p~la tua bondade, so– bre os te us inimigos reduzindo os

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0