Alma e Coração 1930 - Anno 12° - Fasc. 9 - Janeiro
«Não iulgueis segundo a .carne, dizia ,Jesus aos phari seus.» «Não sabeis donde vim nem para onde ·vou .» Jesus. , «E se eu julgasse a meu juízo, seria ver– dadeiro, porque não estou só; commigo, _ --está o Pae que me enviou.» Era um clarfio de fuz a illuminar as cons– ciencias envoltas na penumbra; revelar-lhe ·sua natureza, desviava-se da missão, como -sê!fóra da observação normal. 8 egundo a presci encia e sabedoria divina, ra necessario que Jesus passasse por todas .as anormalidades, desde a apparente gr,avi– dez de Maria a terminar no Calvari o. .~1.aria não concebeu, hospedou mais queum raio de luz, toda a Luz Suprema que poderia .a crianção do mundo Terra, comportar . E' na virgindade de. Maria que se ergue o templo de tóda uma réligiào . Só a pureza duma virgem de corpo e alma poderia dar amor '-matern o, ao eleito escolhido- Jesus . A resurreição revelou ao muudo o sêr excepcional, divino, reapparecendo na mes– ma natureza de fó rma humana, sem mais •nenhum dos soffrime11tos das feridas r ecebi– das, vi vendo e comendo durante quarenta dias, · na apparencia tangível com que se mostrára aos homens 33 annos. . ~ Ao anai:sarmos a psychologia de seu co r– po, por taes feitos, se conclue á precipi ta– ção, no juízo enorme de considera-l o co rpo carnal. Elle o di sse- «Ha corpos celete., Nos textos bíblicos lê-se:- T odo o nascido -de ca rne co rruptí vel, na morte tem seu cas- tigo. , , Se Jesus fosse nascido de carne rorrupti– vel, não teria resuscitado. João Baptista, e os Apostolos martyres, genios videntes de manifesta auctoridade divina, não deram testemunho ao mundo de taes prodígios, po:q:'e eram filh os_ de ventre corrupti vef, e as v1 sao e os conhecimentos do seu tempo velavam a grande luz. D irão os que me lerém: Deus 11ão derr?ga -suas leis; a .resttrt::ição de Jesus, . destruiu o fructo d'essa reflexão . Conhecemos, na sabedoria humana, todas as leis divinas, para nos abal ançarmos, a jul– . ar com rectidão, e justiça o que ignoramos? Acceitem.os o pão da palavra divina que . nos offerece O Evangelho da Verdade, e não a dos livros, cuja palavra soffeu a interpre– tação dos homens falliveis. Jesus resuscitou a f ilha do prinçipe Jairo e o fi lho da viuva Nain. S. Marcos.-5-22-Lu- -~as-7· 1l-1 5 · A maior mani festação do poder de Jesus, foi a resurrei ão de Lasaro o qual estava morto havia quatro dias. Estes fac tos re– ~velam queEII~ pód_e_dominar o poder da mor– te. porque d'uma lei ti rou sua substanciado di– . vino que é um, COf!l O s~ distinguiu as forças , da natureza pela d1 vers1dade de eus eftei– to:s . Por conseguinte, é preciso não confund ir a lei com a causa de um facto: as causa, são .as fo rças p_elas quaes os phenomenos devem estar relacionados, e cuja determinação é ainda mais difficil que as das leis Em lugar de estudar ess1;1s leis, o homem ·quer a maior ' parte das vezes advinhal-as; · d'ahi as falsas hypofües-es que perturbam os ·sabios. ' A• scienciR espirita revela cada dia novos · mysterios; e lembra ao ho:mem que deve ser .refl etido. O ser que ex.is.te por si mesmo, é unico . Se fosse fo rmado de materia organica, não ~eria mais infinitamente perfeito. A consequencia da immaterialidade de Je– s us, é o re ultado de sua mesma infinita per feiçã o. . Jesus tendo todo o ser em, s,, tem a exte_n - .são que é um modo de ser, v e tudo o que _exis– te fóra de si e por si mesmo contema ple111t~de .(lo ser como imagem de Deus (R ~em vêo filho -ALMA E-CQRAÇAO vê o Pae) a communicar-lhe a itangibilidade, como sendo a soberana verdade, Jesus, não podia ser encerrado nos limites do corpo organico, por ser unidada sobera– na e infi nita, da natureza e dos atributos de Deus. Não ê sem rnzão que a ordem entre as ramificações das sci encias do espirito é in– •versa da ordem entre as ramificações d·as sciencias da materia organisada, que deter– mina as leis que presi dem a producção dos factos. Isto é; dar a idêa da natureza do corpo de Jesus toda clareza da verdade demonstrada, ou pôr de accordo os resultados da r efl exão mais · exigente com os dados instinctivos do espírito humano, na investigação das leis da vida espiritual. E' escusado dizer que a possibilidade dos factos sobreoaturaes está inteiramente f óra destes meios de apreciação logica. Estas theori as que provarão ao menos a fecundidade do «Evangelho Eterno da ver· dade» estão suj eitas á critica; mas o que se póde admirar, sem receio de ex.aggeração, é a pureza da verdade absoluta dos textos bíblicos, fonte inesgotavel de observações delicadas e profundas. - Al ém disso, esta demor. stração é o verda– deiro remate da razão humana. MARCOS ARGUELHES Oração de affecto (*) Exmos. srs. representantes do sr. dr. go– vernador do Estado, Intendente de Belem, Associações artí sticas, recreativas e benefi– centes. Imprensa e arte do Pará. 1 Minhas senhoras: -Meus senhores : Povo Paraense ! H ELENA ! E' de noite. A alma das estrellas, ,,. palpita, desperta, na amplidão. . . As almas das virgens vivas, quan– do soffrem, choram lagrimas de luz, Helena, que vão accordar· nos céus, as estrellas que dormem- «o olhar das virgens mortas , . E' assim que o pranto da virgem, silencioso e puro, augmenta no con– cavo da noite o scintilar esplendente!... Coroaram-te as tuas proprias la· grimas. tua corôa é luminosíssima, porque tem o bri)ho transpare~te da tua lagrima, cand1da e verdadeira! Quem não soffreu, quem não cho– rou uma vez na vida ? ! Quem tornou da taça crave jada do banquete humano, e não sentiu, ao saborea r do exqui sito vinho espume– jante, um travor sequer a lhe aperté'l r os soluços na garganta : «foi espec tro de homem, não foi homem, passou pela vida e não viveu>, ! (*) D iscurso recitado no Theatro da Paz, no inicio de festivel de arte em homenagem aos irmàes Nobre, em a noite de 21 de N ovem• bro de 1929. Inserido no Alma e Coração, a pedido ins– tante de muitos espectadores. r Quem soffreu, quem sentiu umç1 desillusão, quem chorou dentro d'alrrt'a, a dor dum desengano, sab_e entender · Helena! saqe entender .U!lysses !... · Que me querem ouvir? .. . Que direi eu .que não seja conhe– cido de toda esta terra amazonicª , estuante de juventude, sempre per– petuada nas almas que se renova_rn ? Este Pará maravilh9so cujo .verde fijs· cinante ena_m0rou aa_lma infantil e poe• tica de. Eaeida; este Pará soberbo..de sonhos moços, que rebojam e -~sca– choam como · a ,alma , J_itanica das. po– roró c,as, que sao_µJiiu . e , fez florir.-a alma de Juannita,; Machado; este Ali,– bacá da intellectualidade, em cujas arcas bojudas •se ,g4ardam ~s joias dos pensamentos duma:geração; este Pará dos mortos e dos vivos que t:r.a• balham nas officinas da Ideia; -os Alcides Bahia, -esse taJento .l~rg-0 e fórte como as ag_ua~ fór,te . e , largas das nossas bahias, ,flS _zy\arq1,1es de ! Carvalho, os Paulo ,Maranhão, os Se- 1 verino Silva, os João Affonso do 1 Nascimento, os Raymundo Moraes, QS lgnacio Moura, os P .e F,lorence Oubois, Ettore Bosi_p, Dejard de Mendon_ça, Antonio Machado, M,anoel Lobato, Carlos Victor, VespasianoRamos, Car– los D. Fernandes, Eustachio de Aze– vedo, os Blyseu Gesar, os Alves de Sousa; os Theodoro Rodrigues, Ro– meu Nariz, Julio M,uniz, l\:lartinho Pin– -to: Martins Béssa, e outros de aquem e d'alem mar-adoradores cultuaesde Helena e de Ullysses- o yrapurú e o rouxinol dos garganteios arrebatado– res; e os viajantes que t êm perlu_s– trado ás aguas guajarinas-artistas da voz, da muska, de todos os, instru · mentas, do_pincel, do lapis e da Ren– na; a alma dos marinheiros e .do$ soldados e o cor.ação •das creanças; nomes illus-tres de homens· illustres e de mulheres 1 i.llustres, todos teem ido levar a oblata ,da sua devoção nos degráus do templo humilde, que é a casa dos passarinhos pa raenses. Os viv?s _estão ahi ; os -morto,s, eu os resusc1te1 ao calor fulguraute das lagrimas .de Helena ! Este Pará, collossal de ·bondade a perfilhar os filhos dos outros cé~s• este nababo da , intelli gencia que se esconde sob a nuvem da modestí a--r– tanto ma ior quanto .mais ru til a, tanto mais rútila quanto.mais escondida· este Pará gigante, já glorificou a voz d~ ca– sal de passarinhos, nascidos sob a ramagem frondosamente verde ~dos seus bosques aquecid0s ao beito do Equador ! Voz encantadota !. .. Encantadora!. .. e disse tudo. Ouvindo-as cantar, a ,alma se enleva, como ouvindo nas noites de luar,
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