Annaes Bibliotheca e archivo público do Pará

J FESTAS POPULARES DO PARA 261 artistas portuguezes, de menores habilitações do que os nossos, porém de ma ior audacia, apossaram~se com · a arma da r educção enorme do preço, do an tigo· mo– nopolio dos mestres. I sto determinou tambem o falseamen to do antigo methodo de aprend izagem, por que o discipulo inhabil fo i logo achando trabalho remunerado com os outros, jamais exigentes em materia de arte. E' por isso que Antonio de Belém, ou o mestre Belém. como vulgarmente o chamam, i·epresenta esse passado, do qual elle é legitimo filho. Quasi sem instrucção alguma, conhece, entretanto, empyricamento a fundo o seu officio e d 'isso tem dado provas lucidas e fortes. Não veste a secular j aqueta de outr'or a, nem calça as chinellas de couro crú dos mestres d'outl'os tempos; acompanhou a evolução do trajo, adaptou-se ás con– dições do nosso tempo. Entretanto, como r eminiscencia do passado, conserva a crença meio religiosa, meio fetichista, do Espirito-Sarito, que mantem até hoje. Recebeu-a no berço, deu-lhe um symbolismo de culto em cr eança, em communhão de idéas com o seu primo l\f ar tinho, e, ainda agora, os dois promovem annualmente a festa do mastro, essa tambem legen– daria remin iscencia do passado, que se vae apagando. Sua conducta correcta, séria e honesta grange– ou-lhe uma reputação merecida; cada constructor que o chamou para executar uma obra teve ensejo de ve– rificar a sua honest.idade e a firmeza dos seus contractos. D'ahi e de um.. L benevolencia rustica mas sincer a, mana a sua popularidade entre artistas e operarias, acostumados a ouvil-o como homem de bom conselho e em quem podem confiar. Não é uma, personalidade política, embora milite e trabalhe no .par tido republicano. E' um dilettante. ·· Representando assim o nosso artista de hontem, em todas as suas qualidades e os seus prejuízos, repre– sentante de uma camadti attingida pêla deturpação, seu perfil popular, emboru obscuro, nccenlua:se e des- · taca-se. ARTHUR VIANNA. ./