Annaes Bibliotheca e archivo público do Pará

244- ANNAES DA BIBLIOTHECA E ARCH IVO PUBLICO Assim os trez rapazinhos faziam annualmente a sua festa do Divino, em familia, sem apparatos, que a sua pobreza os não permittia. Uma pequena corôa de mirity, encimada por um mundo e uma pombinha de cêr a, er a depositada em altar modesto, por elles mesmos feito, onde reluziam, á noite, as l uzes de algumas velas. Reunidos com outros rapazitos, cantavam deante do symbolo da sua devoção, e, .no quintal da casa, er – guiam uma vara r evestida de vistosa folhagem, arre– medo do grande mastro levantado no largo da Sé. A pequena festa, devido á tenacidade dos seus pro– motores, foi tendo apreciavel incr emen to, a corôa de mirity pôde ser substituida por outra de folha de F lan- dres; a rapaziada animou-se sucessivamente; as esmolas 1 choveram mais abundantes, e, cedo, havia na cidade , ma.is uma festa: a do Espirito-San to das cr eanças, como lhe chamavam. Um facto imprevisto \reio desenvolver aquelle culto, ainda acanhado, dando-lhe a divulgação precisa para o povo correr a coadjuvai-o. Uma · mulher parda, de nome Maria Thereza, en– fermou gravemente, de modo que nenhuma esperança havia sobr e o seu restabelecimento. No triste e affictivo estado em que se achava, a desventurada doente lembrou-se d'aquelle Espirito– Santo das creanças, tão pobre, mas tão puro nas mãos dos rapazinhos, que o vene1·avam. Para elle a:ppellou em supplica, promettendo man– dar fazer, em troca de sua saude, uma pombinha e um mundo de prata para a corôa de folha, e dizer uma missa cantada na egreja de Sant' Anna. O seu mal abrandou e extinguiu-se, pouco a pouco, 0 ella, bôa e forte como d'antes, cumpriu o promettido. ~ Então a corôa foi, pela primeira vez, levada á egrej a, depositada em uin verdadeir o altar, e exposta á veneração franca do publico. Este progresso auctorizou tambem uma reforma no mastro; com mais solennidade, abandonaram Mar– tinho e os seus primos o quintal da sua casa, e foram levantal-o no la~go do Quartel, entre um poço que lá existiu e a forca, armada quasi á bocca da rua das Flôres.

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