Annaes Bibliotheca e archivo público do Pará
226 ANNAES DA BIBLIOTHECA E ARCHIVO PUBLICO da fésta portugueza; não fôram a lembrança da patria distante e a tendencia dos colonos para a reproducção das suas festas populares e religiosas, que serviram de base aos prodromos do culto do nosso povo á Se– nhora de Nazareth. Alguma coisa de original, de novo, se nos depara no assumpto: é a lenda curiosa, genuinamente para– ense, da santa achada entre pedras brutas, que re– geita o santuario pobre de um caçador, que desdenha um abrigo sob o tecto do proprio palacio do governo, fugindó sempre para o· seu tosco nicho natural. Esta inventiva historia revela ,o espírito credulo do nosso povo, arrastado ao sobrenatural sem custo, pela mais simples r eferencia, ingenuamente. A festa portugueza, como a paraense, ·nasceu de uma lenda, mas lenda an– tiguíssima que conta hoje a bagatelíi d e quinze se– culos, e nada tem de commurn com a do Pará. Investiguemos o passado longínquo da Iberia, ao · tempo em que se passou o commovedor e bello poema do presbytero de Carteia, o nobre gardingo da côrte de Witiza, para corroborar a opinião emittida. * * * Conta a lenda que Ruderico, o ultimo rei godo, vencido pelos mussulmanos na terrível batalha do G_uadalete, em 9 de setembro de 714, fugira do campo disfarçado em pastor 6, depois de fatigante e penosa jornad8; a pé _por montes e valles, chegára a cidade de l\~erida, capital d~ Luzitania, fundada por Augusto. Rece10so da perseguição dos inimigos, partiu sem de– n~ora para um !110steiro hispanico, situado na Cauli– mana, a doze k1lometros da cidade, e ahi revelou ao abbade Romano a .sua nobre estirpe. O oceano temeroso e formidavel dos barbaros, ar– rasados os ultim_os di9.ues godos, espraiava-se impetu– oso pelo vasto 1m_perio da monarchia gothica; o mos– teiro não esc~paria á sanha e ao furor dos guerreiros de Islam. Rei e monge resolveram fugir, buscar nas tenebras dos montes alcantilados, no ref'csso inYio dos
RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0