CELINA, Lindanor. Breve sempre. Belém, PA: Governo do Estado do Pará, 1973. 167 p. ISBN (broch.).

mas faz cara de inocente, sua sonsa, p€nsa que não co– nheço seus podres, agora aí nesse banquinho, barrigão por acolá, cara de Nossa Senhora labutando, e bem que fez suas farrinhas, e casada, hein? Agora me vem com essa cara de Nossa Senhora dos Misteres Domésticos). O diabo é que não consegue antipatizar com a outra, mor– mente depois que acolheram tão bem a Peter, e já se levanta, barrigudíssima, para aquecer os pães, servir o café, traz biscoitos e leite, enquanto o marido leva a maleta para cima - para onde, se não há quartos, e mesmo o dela é emprestado, só até o aviador chegar? Harry intercepta-lhe o espanto com o rir prazenteiro e acalmante: "Sossegue, Mademoiselle, é apenas para que a valise de seu amigo não fique aqui, na entrada." Mas a mulher já se interessa, consulta o marido, falam missa baixa, se arranjam : "Olhem, em último caso, dar-se-á um jeito. A senhorita dormirá com minha mulher, eu pas– sarei lá para cima, com o senhor." Que homem, que gente. De repente, o mal-estar, o constrangimento de Angela se evaporam, já estão rindo todos, à mesa, lanchando, ainda bem, ainda bem, assim Peter não terá de procurar o convento, ficará comigo o tempo todo, que homem extraor– dinário, que santa mulher. E o menino no meio deles, seus louros cachinhos, tão bem posto, mãe cuidadosa que ele têm, Ângela já lhe esqueceu as farras, depois, quem sou eu para julgá-la (o controleur entra na cabine, vem pedir os bilhetes). O casal pára num instante a comilança, Ângela se volta para o presente, o rapaz defronte aproveita para perguntar: "É francesa?" "Não, moço, só estou lá uns tempos." Ele: "Eu vou para lá, isto é, vou chegando e, voup!, direto a Montparnasse, pegar o trem (para onde?). Pensamento de novo em Peter, eles num restaurante, o que comem?, coelho, sim, foi isso, coelho, mas não conse– gue fixar os pormenores do almoço, bom foi no teatro, no music-hall, a maquinaria, gelo no palco, as vedetes um luxo, um show ao modo do Moulin Rouge, até acrobatas, ele virou menino, rindo com as piadas, ia traduzindo para ela, depressinha, as piadas, atuais umas, outras velhérri– mas, riso de Peter, fazia um pouco frio, ali, os dois juntos, era de tarde, foi onde sempre estivemos mais unidos, quando fomos a teatro, capela de Versalhes, Olympia, e nesse music-hall, o maior de Amsterdam, cata, cata na 139

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